Para lá do doente
Na passada semana fomos surpreendidos pelo desabafo de George Bush, presidente na América, que, numa recente entrevista, afirmou que a teoria científica da evolução, agora mais provada que nunca, não choca nem desacredita a teoria da criação presente na Bíblia e na fé cristã. A surpresa não está nas suas palavras, não veio dizer nada que já não soubéssemos, mas está no facto de assumir de forma pública uma verdade que faz parte da nossa vida mais pessoal e dos valores particulares defendidos pela Igreja Católica.
Esta constatação traz consigo ainda outra certeza da fé: afinal de contas, o mundo moderno com os progressos mais avançados que possa alcançar, caminha a par com a humanização e a afirmação dos valores humanos mais genuínos e naturais. Por muito que alguns queiram ver aqui uma rivalidade e um campo de batalha (fé e razão), tão antiga como o homem, a verdade é que não só não há rivalidade ou oposição, como até parece haver complementaridade e suporte mútuo. Aliás, qualquer teoria da evolução só faz sentido se desembocar em maior humanismo e maior afirmação do valor da vida humana. A ciência não vale por si mesma; vale enquanto estiver ao serviço do homem.
Neste sentido percebemos como a evolução, por exemplo no campo da medicina, nos levou à criação de espaços e tempos que vão para lá do simples internamento necessário para a realização de cirurgias. É invenção e descoberta da modernidade a criação de outros espaços que saem para lá do comum internamento e apostam na humanização do doente. O doente é sempre um ser humano; e este é sempre mais importante que aquele. Assistimos, por isso, à criação de “unidades de cuidados continuados”, espaços que são também lugares de convívio e de valorização da pessoa humana, considerada na sua essência e não na sua doença. Trata-se de prolongamentos dos habituais hospitais e têm como preocupação dar a cada pessoa uma possibilidade para que a doença seja vivida de uma forma diferente com que geralmente ela é vivida. Trata-se de espaços em que é possível descobrir o valor do ser humano, inerente mesmo à sua condição de frágil e débil. É que em cada doente, mais ou menos grave, está sempre presente um ser humano, com sentimentos, com pensamentos, com vontade própria e com consciência de si e dos outros. Só assim se pode também compreender que a própria doença, tantas vezes motivo de descrédito e de desânimo, se converta em trampolim e motor para voos mais altos.
Nas Brancas, Batalha, está em funcionamento uma destas unidades de cuidados continuados há um ano. Por ali têm passado muitos doentes, mas são sobretudo os rostos e as história que são recordados e são lembrados como verdadeiros protagonistas desta instituição. Por ali se tem dado valor a quem aparentemente se quer desvalorizar; ali se tem encontrado valor onde muitos querem fazer crer que não há.
Quando na recente visita pastoral D. António Marto visitou estas instalações, pudemos com ele presenciar e apreciar o trabalho que ali se desenvolve. E porque o humanismo é posto em destaque, quisemos fazer memória nesta edição para que de alguma forma se reconheça o trabalho desenvolvido e ao mesmo tempo se possa reflectir no bem que se vai fazendo de forma silenciosa, institucional e graciosa. O mundo pode estar confuso e os caminhos podem não ser claros. Mas para lá do tecnicismo desenfreado e da razão fria, está também presente o calor do humanismo que será sempre o ultimo reduto da nossa condição.
[Edição de 11 de Dezembro]
Esta constatação traz consigo ainda outra certeza da fé: afinal de contas, o mundo moderno com os progressos mais avançados que possa alcançar, caminha a par com a humanização e a afirmação dos valores humanos mais genuínos e naturais. Por muito que alguns queiram ver aqui uma rivalidade e um campo de batalha (fé e razão), tão antiga como o homem, a verdade é que não só não há rivalidade ou oposição, como até parece haver complementaridade e suporte mútuo. Aliás, qualquer teoria da evolução só faz sentido se desembocar em maior humanismo e maior afirmação do valor da vida humana. A ciência não vale por si mesma; vale enquanto estiver ao serviço do homem.
Neste sentido percebemos como a evolução, por exemplo no campo da medicina, nos levou à criação de espaços e tempos que vão para lá do simples internamento necessário para a realização de cirurgias. É invenção e descoberta da modernidade a criação de outros espaços que saem para lá do comum internamento e apostam na humanização do doente. O doente é sempre um ser humano; e este é sempre mais importante que aquele. Assistimos, por isso, à criação de “unidades de cuidados continuados”, espaços que são também lugares de convívio e de valorização da pessoa humana, considerada na sua essência e não na sua doença. Trata-se de prolongamentos dos habituais hospitais e têm como preocupação dar a cada pessoa uma possibilidade para que a doença seja vivida de uma forma diferente com que geralmente ela é vivida. Trata-se de espaços em que é possível descobrir o valor do ser humano, inerente mesmo à sua condição de frágil e débil. É que em cada doente, mais ou menos grave, está sempre presente um ser humano, com sentimentos, com pensamentos, com vontade própria e com consciência de si e dos outros. Só assim se pode também compreender que a própria doença, tantas vezes motivo de descrédito e de desânimo, se converta em trampolim e motor para voos mais altos.
Nas Brancas, Batalha, está em funcionamento uma destas unidades de cuidados continuados há um ano. Por ali têm passado muitos doentes, mas são sobretudo os rostos e as história que são recordados e são lembrados como verdadeiros protagonistas desta instituição. Por ali se tem dado valor a quem aparentemente se quer desvalorizar; ali se tem encontrado valor onde muitos querem fazer crer que não há.
Quando na recente visita pastoral D. António Marto visitou estas instalações, pudemos com ele presenciar e apreciar o trabalho que ali se desenvolve. E porque o humanismo é posto em destaque, quisemos fazer memória nesta edição para que de alguma forma se reconheça o trabalho desenvolvido e ao mesmo tempo se possa reflectir no bem que se vai fazendo de forma silenciosa, institucional e graciosa. O mundo pode estar confuso e os caminhos podem não ser claros. Mas para lá do tecnicismo desenfreado e da razão fria, está também presente o calor do humanismo que será sempre o ultimo reduto da nossa condição.
[Edição de 11 de Dezembro]
Etiquetas: editorial