Igual e diferente
O peregrino que se desloca à Terra Santa vê subitamente o programa alterado e sente ser-lhe proporcionado um dia diferente. Motivado pelo conhecimento e a proximidade com os lugares que fazem parte da vida de Cristo, é transportado para uma outra era e um outro acontecimento. De forma um tanto abrupta vê-se transportado ao “jardim-museu do holocausto”.
Os programas turísticos levam-no a percorrer as galerias de um enorme museu onde são visíveis as marcas do sofrimento infligido aos judeus pelas ideias e movimentos nazis, durante a Segunda Grande Guerra. E no meio de milhares de fotografias, filmes e relatos, é-se transportado a uma sala feita de gavetas e gavetões onde são apresentadas as muitas figuras que, ao nível mundial, tomaram uma postura diferente, contra o regime. Os salvadores, outros Messias do nosso tempo, que à custa das próprias vidas ousaram ignorar as ordens do regime e se dedicaram ao Salvamento de vidas humanas, independentemente da religião ou da raça. É uma galeria enorme e são às centenas aqueles e aquelas que deixaram o seu nome escrito na história moderna pelo facto de terem ajudado aqueles que eram perseguidos e humilhados.
Como portugueses sentimos um certo orgulho quando ali encontramos, lado a lado com rostos de outras paragens, um nome que é também um orgulho nacional: Aristides Sousa Mendes. Todos o conhecemos e já dele ouvimos falar. Por isso ali nos demoramos, com o desejo de que ali nos vejam e assim se estendam até nós os efeitos da sua heroicidade. Talvez por isso dei comigo mesmo a visitá-lo e a revisitá-lo por três vezes consecutivas.
Mas quem conhece um pouco mais da história não pode deixar de ficar triste pelo facto de conhecer outros que são pura e simplesmente esquecidos ou ignorados. Um esquecimento que afinal abona em nome da sua heroicidade. Está neste caso Monsenhor Carreira, um ilustre filho desta terra e do qual celebramos agora o centenário do seu nascimento. Não tem fotografia nem nome registado no museu-jardim de Israel.
O esquecimento a que está votado tem que ver com o facto de ter sido um clérigo, mais que com o outro facto de ter feito a sua acção salvadora sempre em segredo e com total discrição. A sociedade laicista em que vivemos pretende ignorar homens que tenham trabalhado não pelo dinheiro, nem pelo gosto de ser heróis, mas pela simplicidade de amarem a Deus. Uma sociedade sem Deus, tudo faz para esquecer os homens de Deus.
E no entanto, Monselhor Carreira foi tão ou mais herói que esses outros heróis que a galeria nos apresenta. Confesso que eu próprio não o conhecia antes de dele ouvir falar, o que aconteceu apenas há uma semana. Estava eu longe de imaginar que aqui mesmo ao lado podia encontrar um herói desta estirpe. O meu país parece desconhecê-lo, prefere falar dos heróis feitos com “morangos e açúcar” e deixa no esquecimento outros que como Monsenhor Carreira são feitos de carne e osso, mas passam como se de papel fossem feitos.
Está na hora de as autoridade civis e religiosas abrirem os olhos e darem destaque a quem efectivamente o merece. Monsenhor Carreira está lá na primeira fila. Aqui o lembramos nesta edição e deixamos o repto para que o Magalhães, hoje lançado nas escolas, nos leve a descobrir este herói nacional. Não será exagero se ele fizer parte não de um museu ou jardim, mas de uma memória colectiva que nos ajuda a ser mais nós próprios.
[Edição de 25 de Setembro]
Os programas turísticos levam-no a percorrer as galerias de um enorme museu onde são visíveis as marcas do sofrimento infligido aos judeus pelas ideias e movimentos nazis, durante a Segunda Grande Guerra. E no meio de milhares de fotografias, filmes e relatos, é-se transportado a uma sala feita de gavetas e gavetões onde são apresentadas as muitas figuras que, ao nível mundial, tomaram uma postura diferente, contra o regime. Os salvadores, outros Messias do nosso tempo, que à custa das próprias vidas ousaram ignorar as ordens do regime e se dedicaram ao Salvamento de vidas humanas, independentemente da religião ou da raça. É uma galeria enorme e são às centenas aqueles e aquelas que deixaram o seu nome escrito na história moderna pelo facto de terem ajudado aqueles que eram perseguidos e humilhados.
Como portugueses sentimos um certo orgulho quando ali encontramos, lado a lado com rostos de outras paragens, um nome que é também um orgulho nacional: Aristides Sousa Mendes. Todos o conhecemos e já dele ouvimos falar. Por isso ali nos demoramos, com o desejo de que ali nos vejam e assim se estendam até nós os efeitos da sua heroicidade. Talvez por isso dei comigo mesmo a visitá-lo e a revisitá-lo por três vezes consecutivas.
Mas quem conhece um pouco mais da história não pode deixar de ficar triste pelo facto de conhecer outros que são pura e simplesmente esquecidos ou ignorados. Um esquecimento que afinal abona em nome da sua heroicidade. Está neste caso Monsenhor Carreira, um ilustre filho desta terra e do qual celebramos agora o centenário do seu nascimento. Não tem fotografia nem nome registado no museu-jardim de Israel.
O esquecimento a que está votado tem que ver com o facto de ter sido um clérigo, mais que com o outro facto de ter feito a sua acção salvadora sempre em segredo e com total discrição. A sociedade laicista em que vivemos pretende ignorar homens que tenham trabalhado não pelo dinheiro, nem pelo gosto de ser heróis, mas pela simplicidade de amarem a Deus. Uma sociedade sem Deus, tudo faz para esquecer os homens de Deus.
E no entanto, Monselhor Carreira foi tão ou mais herói que esses outros heróis que a galeria nos apresenta. Confesso que eu próprio não o conhecia antes de dele ouvir falar, o que aconteceu apenas há uma semana. Estava eu longe de imaginar que aqui mesmo ao lado podia encontrar um herói desta estirpe. O meu país parece desconhecê-lo, prefere falar dos heróis feitos com “morangos e açúcar” e deixa no esquecimento outros que como Monsenhor Carreira são feitos de carne e osso, mas passam como se de papel fossem feitos.
Está na hora de as autoridade civis e religiosas abrirem os olhos e darem destaque a quem efectivamente o merece. Monsenhor Carreira está lá na primeira fila. Aqui o lembramos nesta edição e deixamos o repto para que o Magalhães, hoje lançado nas escolas, nos leve a descobrir este herói nacional. Não será exagero se ele fizer parte não de um museu ou jardim, mas de uma memória colectiva que nos ajuda a ser mais nós próprios.
[Edição de 25 de Setembro]
Etiquetas: editorial