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Passado, presente e futuro

Na passada semana perfizeram-se os 200 anos da batalha ocorrida em Leiria contra os invasores franceses que nesta cidade encontraram uma resistência inesperada à suas invectivas contra Portugal. O contexto político e social, fazia de Portugal uma presa apetecível, sobretudo pelas relações que mantinha com Inglaterra. Por seu turno, o país não queria manchar uma aliança que vinha do passado, mas ao mesmo tempo conhecia as implicações graves que essa atitude poderia trazer em relação ao governo francês. Entre a espada e a parede, Portugal apenas teve uma saída: a invasão das tropas francesas. Uma invasão que por ser inesperada significava também a morte. Nem o povo nem os governantes da altura estavam preparados para a crise que se adivinhava. Leiria foi então o primeiro obstáculo sério e expressivo de uma atitude por parte de Portugal. Estávamos decididos a travar o ímpeto dos franceses e por isso a luta armada começou a organizar-se.

Acontecimentos do passado que parecem nada dizer aos contemporâneos; história de um povo que parece não despertar a atenção e o interesse dos que hoje prepararam o futuro deste “pais à beira-mar plantado”.

Sinal dos tempos que precisa ser reflectido e analisado, as novas gerações parecem cada vez mais alheias à sua história passada. Chegamos ao ponto de confundir modernismo com ruptura com o passado; chegamos ao tempo em que o importante é o hoje, sem quaisquer referências ao ontem e ao amanhã. Perdida a visão contínua da vida e da história ficamo-nos sós na certeza do aqui e agora. Sartre, chamou a este estado a “náusea”, consciente que estava de que o indivíduo sem história e sem futuro, é um indivíduo angustiado, perdido, desconfiado e morto. No banco do jardim ele olha para as crianças que brincam no lago: não recorda o seu tempo de meninice, não o deseja; e também não vê nelas os homens de amanhã. E o olhar torna-se turvo, triste, longínquo e lânguido. Nasce a vontade de morrer, vontade de desaparecer. O homem só, sem passado nem futuro, é o homem morto.

Na Igreja sempre funcionou o respeito pelo passado, a que alguns quiseram simplesmente chamar tradição, sinal de incompreensão do que verdadeiramente se falava. Mas esse respeito não se confundiu nunca com mera recordação. O nosso Deus de hoje é efectivamente o Deus de Abraão, Isaac e Jacob. O centro da vida cristã, a Eucaristia, é exactamente uma recordação que se quer seja uma actualização, com perspectivas de futuro. Recordar o passado adquire um sentido impulsionador para viver o futuro. E quando o passado é recordado como impulso para o futuro, adquire mais vida e mais força.

Nesta edição fazemos evocação da história, não por nostalgia nem mesmo por respeito; fazemo-lo na certeza de que ao evocar o dia de ontem estamos a preparar o dia de amanhã.

[Edição de 10 de Julho]

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