O melhor do mundo
Passou mais um ano e aqui estamos nós a falar do mesmo assunto: as crianças. Lugar comum dizer que são o mais belo que a vida contém; lugar comum dizer que todos nós somos uma criança e que só saberemos apreciar ávida se soubermos, como elas, olhar o mundo de forma simples, generosa e desinteressada. E poderíamos continuar a desfolhar um número incontável de dizeres belos e graciosos sobre as crianças.
Mas este ano, não posso deixar de referir o lado negro deste tão belo quadro. Refiro-me aos acontecimentos que entretanto marcaram a sociedade e a opinião pública. Vindo lá do lado da Áustria as noticias foram aterradoras: duas crianças, agora mulheres, a quem roubaram a infância, prendendo-as e limitando-as a um espaço exíguo. Esta última, com a agravante de o seu carrasco ter sido o seu próprio pai, que dela abusou sexualmente durante vários anos. Os relatos são tão cruéis que muitos de nós ainda não acreditamos que seja verdade e inventamos alguma forma de fugir à dura realidade. Mas não é só este o quadro negro. De África e da Ásia surgem outros relatos, estes falando da escravidão sexual a que muitas menores são sujeitas, vendidas nos mercados da Europa como se de antigas especiarias se tratasse. E da América, do sul e do norte, surgem também relatos de crimes, nas ruas e nas escolas, em que os autores e as vítimas são elas, as crianças.
Lentamente o mundo vai acordando para a dura realidade: esta sociedade avançada do século XXI vive paredes-meias com as mais horrorosas formas de sofrimento e exploração, perpetuadas contra os mais débeis e os mais fracos: as crianças. Em pleno dia da criança, em plena fantasia de imaginário e sonhos construídos como reais, não pudemos calar a verdade da nossa história e do nosso tempo. Estamos a abusar da candura e da inocência das crianças. Estamos a abusar da sua fragilidade e estamos a enganá-las a elas e a nós próprios. Enquanto não nos orientarmos pelos princípios evangélicos que nos apontam as crianças como modelo de vida para os mais velhos; enquanto não admitirmos que elas são a expressão clara e evidente da felicidade por que lutamos. Enquanto assim não for, algo estará mal em nós e o mundo não avança. Tudo o que fizermos e dissermos não passará de momentos de engano e de engodo. É tempo de ser honesto, justo e sincero: acreditamos ou não na verdade escondida na inocência das crianças? Se sim, então tenhamos a coragem e a ousadia de mudar de uma vez por todas as nossas atitudes em relação a elas. Basta de pieguices! Levantemos a cabeça e por uma vez tenhamos a coragem de nos tornarmos nós próprios iguais a elas.
[Edição de 29 de Maio]
Mas este ano, não posso deixar de referir o lado negro deste tão belo quadro. Refiro-me aos acontecimentos que entretanto marcaram a sociedade e a opinião pública. Vindo lá do lado da Áustria as noticias foram aterradoras: duas crianças, agora mulheres, a quem roubaram a infância, prendendo-as e limitando-as a um espaço exíguo. Esta última, com a agravante de o seu carrasco ter sido o seu próprio pai, que dela abusou sexualmente durante vários anos. Os relatos são tão cruéis que muitos de nós ainda não acreditamos que seja verdade e inventamos alguma forma de fugir à dura realidade. Mas não é só este o quadro negro. De África e da Ásia surgem outros relatos, estes falando da escravidão sexual a que muitas menores são sujeitas, vendidas nos mercados da Europa como se de antigas especiarias se tratasse. E da América, do sul e do norte, surgem também relatos de crimes, nas ruas e nas escolas, em que os autores e as vítimas são elas, as crianças.
Lentamente o mundo vai acordando para a dura realidade: esta sociedade avançada do século XXI vive paredes-meias com as mais horrorosas formas de sofrimento e exploração, perpetuadas contra os mais débeis e os mais fracos: as crianças. Em pleno dia da criança, em plena fantasia de imaginário e sonhos construídos como reais, não pudemos calar a verdade da nossa história e do nosso tempo. Estamos a abusar da candura e da inocência das crianças. Estamos a abusar da sua fragilidade e estamos a enganá-las a elas e a nós próprios. Enquanto não nos orientarmos pelos princípios evangélicos que nos apontam as crianças como modelo de vida para os mais velhos; enquanto não admitirmos que elas são a expressão clara e evidente da felicidade por que lutamos. Enquanto assim não for, algo estará mal em nós e o mundo não avança. Tudo o que fizermos e dissermos não passará de momentos de engano e de engodo. É tempo de ser honesto, justo e sincero: acreditamos ou não na verdade escondida na inocência das crianças? Se sim, então tenhamos a coragem e a ousadia de mudar de uma vez por todas as nossas atitudes em relação a elas. Basta de pieguices! Levantemos a cabeça e por uma vez tenhamos a coragem de nos tornarmos nós próprios iguais a elas.
[Edição de 29 de Maio]
Etiquetas: editorial