Há coisas com que não se brinca
Liberalização dos contratos de trabalho é o esforço que o actual governo pretende fazer no sentido de combater alguns dos problemas que estão inerentes ao mundo laboral: a precariedade, os recibos verdes, a inadaptação… a via da liberalização soa boa, aos ouvidos de quem acaba de comemorar os 34 anos da revolução dos cravos. Mas a mesma via esconde alguns problemas e artimanhas que podem arruinar um sector da vida que já está em crise, ainda antes da chegada da crise.
De facto, olhar para o trabalho como aspecto secundário ou como apêndice ao processo de humanização é um erro e é desvalorizar uma realidade que é intrínseca ao ser humano, sendo mesmo uma vocação. Ou seja, sem trabalho, ou com precariedade no trabalho, é-se menos homem, menos humano e menos digno. O trabalho não é propriamente uma invenção para “passar o tempo”; é antes uma necessidade absoluta para a vida. Negar-se o trabalho a alguém é diminui-lo na sua relação com os outros, com o mundo e com a vida. Sentir-se inútil por questões laborais é morrer antecipadamente.
Por isso, os políticos deveriam olhar para esta realidade numa perspectiva mais humana e menos economicista ou até política. Cremos que há questões que devem ser tratadas para lá dos interesses políticos e económicos. E esta é uma delas. O trabalho está inscrito nos genes do ser humano e corresponde à realização de um mandato e de uma vocação. E, por ser isso, é uma das formas de construção da dignidade do ser humano. E não se julgue que é assim entendido apenas para os crentes, para os que acreditam em Deus e no seu mandato - “comerás o que produzires”. Mesmo os não crentes, os ateus, que tanto se proclamam a favor da supremacia do homem, mesmo estes, se quiserem ser fieis aos seus princípios, deverão valorizar o trabalho humano, elevando-o acima dos interesses políticos e económicos.
Vivemos, porém, numa sociedade racionalista e economicista que tudo julga e tudo avalia sob o ângulo do lucro, fácil e maior, muitas vezes até prejudicando o mais importante. E é assim que chegamos ao ponto de avaliar a dignidade de uma pessoa consoante o trabalho que desempenha. Deveria ser o contrário: seria o trabalho, qualquer que ele seja, que deveria ser dignificado pela pessoa, qualquer que ela seja. Há na nossa visão uma subversão que, se não temos cuidado, pode tornar-se o nosso carrasco. Pior ainda quando essa subversão é apresentada com contornos adocicados, em nome da liberdade e do progresso. Tenhamos cuidado, como devemos ter juízo, não aconteça que estejamos a arruinar o nosso futuro, insistindo que estamos a prepara-lo.
Nesta semana, em que celebramos o dia do trabalhador (dia de S. José, carpinteiro), que a nossa celebração seja mais que um ferido. Seja uma reflexão sobre a dignidade do trabalho. Nesse sentido aqui deixamos uma pequena ajuda.
[Edição de 1 de Maio]
De facto, olhar para o trabalho como aspecto secundário ou como apêndice ao processo de humanização é um erro e é desvalorizar uma realidade que é intrínseca ao ser humano, sendo mesmo uma vocação. Ou seja, sem trabalho, ou com precariedade no trabalho, é-se menos homem, menos humano e menos digno. O trabalho não é propriamente uma invenção para “passar o tempo”; é antes uma necessidade absoluta para a vida. Negar-se o trabalho a alguém é diminui-lo na sua relação com os outros, com o mundo e com a vida. Sentir-se inútil por questões laborais é morrer antecipadamente.
Por isso, os políticos deveriam olhar para esta realidade numa perspectiva mais humana e menos economicista ou até política. Cremos que há questões que devem ser tratadas para lá dos interesses políticos e económicos. E esta é uma delas. O trabalho está inscrito nos genes do ser humano e corresponde à realização de um mandato e de uma vocação. E, por ser isso, é uma das formas de construção da dignidade do ser humano. E não se julgue que é assim entendido apenas para os crentes, para os que acreditam em Deus e no seu mandato - “comerás o que produzires”. Mesmo os não crentes, os ateus, que tanto se proclamam a favor da supremacia do homem, mesmo estes, se quiserem ser fieis aos seus princípios, deverão valorizar o trabalho humano, elevando-o acima dos interesses políticos e económicos.
Vivemos, porém, numa sociedade racionalista e economicista que tudo julga e tudo avalia sob o ângulo do lucro, fácil e maior, muitas vezes até prejudicando o mais importante. E é assim que chegamos ao ponto de avaliar a dignidade de uma pessoa consoante o trabalho que desempenha. Deveria ser o contrário: seria o trabalho, qualquer que ele seja, que deveria ser dignificado pela pessoa, qualquer que ela seja. Há na nossa visão uma subversão que, se não temos cuidado, pode tornar-se o nosso carrasco. Pior ainda quando essa subversão é apresentada com contornos adocicados, em nome da liberdade e do progresso. Tenhamos cuidado, como devemos ter juízo, não aconteça que estejamos a arruinar o nosso futuro, insistindo que estamos a prepara-lo.
Nesta semana, em que celebramos o dia do trabalhador (dia de S. José, carpinteiro), que a nossa celebração seja mais que um ferido. Seja uma reflexão sobre a dignidade do trabalho. Nesse sentido aqui deixamos uma pequena ajuda.
[Edição de 1 de Maio]
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