A Igreja Local é a melhor expressão da igreja de Jesus Cristo. O bispo preside a toda a organização e actividade que se desenvolve com o objectivo de maior crescimento na fé. Mas a igreja local, toma visibilidade num espaço e num território concreto, envolve pessoas e situações concretas. Em tempos passados, quando a mobilidade das pessoas era menor que nos dias de hoje, os bispos sentiram enorme dificuldade de estabelecer proximidade com os fiéis pertencentes ao território das suas dioceses. Para criar laços de proximidade e acompanhar de perto o ritmo de crescimento das diferentes comunidades, os bispos passaram a visitá-las de tempos a tempos, de forma regular e formal. Eram as visitas pastorais que davam os seus primeiros passos.

Nos dias que correm a mobilidade é maior, a convivência com o bispo diocesano é mais natural, espontânea e frequente; os meios de comunicação e circulação da informação são mais comuns e é possível em qualquer momento tornar-se presente. Vivemos uma nova situação que poderia levar a pensar que as “visitas pastorais” não são mais necessárias. E de facto se as entendermos como no passado, se elas não passarem de momento de informação e proximidade, então não são necessárias. A mudança dos tempos deve levar também a uma mudança na forma como entendemos as visitas pastorais.

O bispo é o pastor que, certamente deve tomar conta do rebanho, deve acompanhá-lo e deve conhecer as ovelhas. Mas acima de tudo, mesmo que não esteja lá, ele é o guardião da fé, ele é o primeiro impulsionador da fé e transporta consigo o tesouro da fé. Nesta perspectiva, as visitas pastorais, sem deixarem de ser esse momento de encontro e de proximidade entre o bispo e os fiéis, são também, e talvez acima de tudo, momento de crescimento na fé. O encontro e a proximidade passam a valer pelo incremento da fé que possibilitam, e não valem tanto por si mesmos. Nos dias que correm, o bispo não terá tanta necessidade de conhecer as comunidades, pelo menos não precisará tanto de as visitar para as conhecer. Mas as comunidades precisam de encontrar no bispo o defensor da fé, aquele que as anima na caminhada quotidiana. A visita pastoral ganha assim uma dimensão nova e mais urgente no contexto em que vivemos.

Os cristãos sentem que a sua fé é cada vez mais posta em questão. De toda a parte surgem invectivas cujo objectivo é mesmo destruir a vivência cristã. A nossa sociedade procura por todos os meios minar o espólio da fé. E o cristão por vezes sente-se só a remar contra a corrente. Tantas vezes acabamos por nos questionar a nós mesmos sobre o sentido dos valores que assumimos pela fé. Tantas vezes a dúvida nos assalta e permanece no coração. Acolher o bispo que nos visita, torna-se então um dom e uma bênção, um desafio e um compromisso, porque a sua presença, a sua palavra e a sua proximidade reanimam a fé e trazem um novo alento onde alguma coisa estava a esmorecer.

A diocese de Leiria está em “visita pastoral”, como recordamos nesta edição. Importa que os cristãos saibam dar o sentido genuíno a esta visita de forma a que no final haja um único vencedor: a fé que se tornou mais sólida e mais esclarecida.

[Edição Nº 4694, 14 de Fevereiro]