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A religião como serviço

A história faz-se de factos, momentos e acontecimentos que marcam épocas e pessoas. Mas por trás desses factos estão sempre outras pessoas que os pensam, os realizam e seguem em frente, porque detentores de uma visão diferente, quase diríamos uma visão profética. Em todas as épocas da história apareceram homens e mulheres que foram detentores desta capacidade de ver mais longe e que a puseram ao serviço do progresso e do desenvolvimento da humanidade. Quase todos foram, incompreendidos, perseguidos e condenados; incompreendidos no seu tempo por nele viverem sem dele serem. A galeria é grande, e a história de uns parece espelhar-se na história dos outros.

Portugal foi leito de homens e mulheres deste timbre que aqui nasceram, cresceram e proliferaram. O seu contributo foi uma mais valia para o país e mesmo para o mundo. Mas a pequenez do território e da mentalidade lusíada fez com que muitos ficassem esquecidos na memória do tempo. Somos de facto de memória muito curta.

O padre António Vieira, foi um destes homens. Um dos que muito contribuiu para o desenvolvimento do pais e do mundo… e um dos que está muito esquecido, por ter nascido onde nasceu. Para quem lê a sua biografia, fica o espanto e admiração pela capacidade eloquente deste homem que sabia usar a palavra e o discurso para argumentar e convencer. A sua arma era de facto a palavra, e diante de qualquer problema sabia que com a palavra encontraria uma solução. Assim acreditou, assim fez e assim triunfou. Por isso a sua bibliografia é extensa e de admirável espanto. Não há ninguém que embrenhando-se na leitura dos seus escritos não se sinta tocado, transformado e convencido. Impressionante capacidade de falar e argumentar que o país aproveitou mas também desbaratou.

Ocorre o aniversário da sua morte e a Universidade católica presta justa homenagem a este vulto da cultura portuguesa, com uma série de iniciativas que certamente farão recordar este homem e trarão ao discurso a sua figura. Provavelmente falar-se-á mais do político e do escritor, e dir-se-á pouco do religioso, que aos 16 anos abraçou a vocação religiosa, motivado pelo amor aos mais precisados. Talvez pouco se diga do político e do escritor que aprendeu as artes da escrita e da política a partir da arte da fé. Ele próprio reconhecia que a sua actividade não tinha outro interesse que não fosse a propagação da fé.

Em ano de memória e recordação, saibamos nós valorizar as várias facetas da sua vida, mas tenhamos a certeza que para lá de tudo está sempre o religioso e o crente que encontrou na fé e na religião o caminho para contribuir para o desenvolvimento da humanidade. Porque a religião será sempre isso, um serviço à humanidade.

[Edição Nº 4695, 21 de Fevereiro]

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