Redescobrir a Bíblia
A minha catequese pouco ou nada teve sobre a Palavra de Deus. Lembro que a minha catequista estava mais preocupada em ensinar preceitos morais, fórmulas de oração, e pouco ou nada sobre a Bíblia, aliás a D. Cecília nem sequer sabia ler ou escrever. Por conseguinte a minha formação religiosa foi baseada em fórmulas, rituais, preceitos e mandamentos, cujo o fundamento bíblico nunca conheci nem nunca me foi dado a conhecer.
Quando, aos treze anos de idade, vim para o Seminário a minha formação religiosa era rudimentar, para não dizer básica. No Seminário, encontrei lentamente uma outra forma de me aproximar da Bíblia. Lembro que ai fiz, por iniciativa própria, uma primeira leitura integral da mesma. Normalmente ao iniciar o “tempo de silêncio” (18h30 às 19h45), fechava os livros didácticos para me perder nos 73 livros da Bíblia. Eu era adolescente e não questionava muitas das contradições e incompreensões com que me deparava. A Bíblia era um livro sagrado, inquestionável e que merecia todo o meu respeito. Nos anos mais avançados do curso teológico, ela foi um livro de estudo, um livro a sublinhar, questionar e por vezes “a duvidar”. Confesso que houve interpretações que me deixaram escandalizado e que chegaram ao ponto de me fazer duvidar da fé. Recordo aquele retiro em que aproveitei para falar com o orientador e as minhas dúvidas e questões foram essencialmente relacionadas com a interpretação da Bíblia. Esta foi de facto uma crise no meu discernimento vocacional.
Hoje, não tenho dúvidas em afirmar que muitos dos problemas que vamos sentindo na nossa caminhada espiritual são devidos a uma leitura errada da Palavra. Normalmente procuramos na Bíblia um consolo espiritual, emocional ou, momentâneo. Mas a Palavra de Deus vai muito mais longe que esse consolo esporádico. Trata-se afinal da expressão da vontade divina sobre a nossa vida quotidiana.
No inicio da Quaresma deste ano, D. António Marto desafiou a diocese no sentido de ir mais longe que a simples leitura académica ou sentimental. A Lectio Divina mergulha-nos na verdade da Bíblia e proporciona-nos uma espiritualidade mais profunda. O desafio não é fácil e não é para todos. De qualquer modo trata-se de uma experiência inovadora e ambiciosa. Os grupos entretanto formados e as experiências feitas poderão revelar-se inovadoras e fundamentais para a caminhada espiritual dos fiéis. Não é fácil mas é bonito e fundamental.
Nesta edição procuramos conhecer algumas das experiências já realizadas. Constatamos que as experiências são muitas e variadas. No entanto uma coisa parece sobressair de todas elas: há um manancial por explorar na nossa vida cristã. Talvez aí esteja também a afirmação da fé. Os fiéis gostam, sentem-se tocados e alguma coisa de novo pode estar a surgir. Estamos em querer que o Espírito está a falar mais alto do que presumivelmente a maioria pode pensar.
No que nos foi dado a conhecer, há sentimentos novos, novidades reveladas de forma inovadora para pessoas que afinal tinham a Bíblia como livro fundamental há tantos anos e que agora redescobrem o seu sentido, o seu significado, o seu valor.
[Edição Nº 4696, 28 de Fevereiro]
Quando, aos treze anos de idade, vim para o Seminário a minha formação religiosa era rudimentar, para não dizer básica. No Seminário, encontrei lentamente uma outra forma de me aproximar da Bíblia. Lembro que ai fiz, por iniciativa própria, uma primeira leitura integral da mesma. Normalmente ao iniciar o “tempo de silêncio” (18h30 às 19h45), fechava os livros didácticos para me perder nos 73 livros da Bíblia. Eu era adolescente e não questionava muitas das contradições e incompreensões com que me deparava. A Bíblia era um livro sagrado, inquestionável e que merecia todo o meu respeito. Nos anos mais avançados do curso teológico, ela foi um livro de estudo, um livro a sublinhar, questionar e por vezes “a duvidar”. Confesso que houve interpretações que me deixaram escandalizado e que chegaram ao ponto de me fazer duvidar da fé. Recordo aquele retiro em que aproveitei para falar com o orientador e as minhas dúvidas e questões foram essencialmente relacionadas com a interpretação da Bíblia. Esta foi de facto uma crise no meu discernimento vocacional.
Hoje, não tenho dúvidas em afirmar que muitos dos problemas que vamos sentindo na nossa caminhada espiritual são devidos a uma leitura errada da Palavra. Normalmente procuramos na Bíblia um consolo espiritual, emocional ou, momentâneo. Mas a Palavra de Deus vai muito mais longe que esse consolo esporádico. Trata-se afinal da expressão da vontade divina sobre a nossa vida quotidiana.
No inicio da Quaresma deste ano, D. António Marto desafiou a diocese no sentido de ir mais longe que a simples leitura académica ou sentimental. A Lectio Divina mergulha-nos na verdade da Bíblia e proporciona-nos uma espiritualidade mais profunda. O desafio não é fácil e não é para todos. De qualquer modo trata-se de uma experiência inovadora e ambiciosa. Os grupos entretanto formados e as experiências feitas poderão revelar-se inovadoras e fundamentais para a caminhada espiritual dos fiéis. Não é fácil mas é bonito e fundamental.
Nesta edição procuramos conhecer algumas das experiências já realizadas. Constatamos que as experiências são muitas e variadas. No entanto uma coisa parece sobressair de todas elas: há um manancial por explorar na nossa vida cristã. Talvez aí esteja também a afirmação da fé. Os fiéis gostam, sentem-se tocados e alguma coisa de novo pode estar a surgir. Estamos em querer que o Espírito está a falar mais alto do que presumivelmente a maioria pode pensar.
No que nos foi dado a conhecer, há sentimentos novos, novidades reveladas de forma inovadora para pessoas que afinal tinham a Bíblia como livro fundamental há tantos anos e que agora redescobrem o seu sentido, o seu significado, o seu valor.
[Edição Nº 4696, 28 de Fevereiro]
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