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Hoje e ontem

Somos o que somos agora e somos o que fomos ontem e até o que seremos amanhã. A vida não pode ser entendida de forma estática, de modo que apenas os acontecimentos de cada momento façam parte da nossa vida. Esta não é um somatório de momentos. Fazem parte de nós, o tempo e os acontecimentos vividos no passado, no presente e no futuro. Por isso não se pode, sem mais, desligar a ficha e esquecer a história. Pelo contrário, quanto mais percebermos o dia de ontem, mais nos compreenderemos no presente e mais poderemos planear e projectar o futuro.

O passado é também tradição, e a Igreja sempre soube valorizar esse património que, tendo sido construído em outras épocas, é parte integrante do presente. Alguns vêm nesta valorização um entrave para o progresso; outros compreendem que só assim se pode olhar para a frente. O crente sabe que o Deus da sua vida é o “Deus de nossos pais”.

Vem isto a propósito do recente interesse sobre o Lapedo, de que esta edição faz reportagem. Muitos olharão de lado e pensarão que é tempo perdido dedicar tanta atenção a um facto que tem o seu valor na história passada; outros talvez compreendam que afinal de contas abordar estas questões é pensar o futuro. A nós impele-nos o desejo de informar e formar as mentes e as identidades. Estamos conscientes de que com este contributo daremos mais luz ao ano que estamos a iniciar, e dois mil e oito poderá ser diferente se soubermos valorizar a história passada. Numa verdadeira lógica da Encarnação, celebrada no Natal, acreditamos que a vida se faz de factos e de gestos, mais que de ideias e pensamentos. E o Lapedo é um facto, um acontecimento que deixou marca na história. Quanto maior consciência disso tivermos mais perceberemos que estamos a marcar o nosso futuro.

Falta à nossa cultura Lusitana esta consciência do passado. Temos de facto memória curta, e não sabemos aproveitar do passado as gigantescas lições que a vida nos dá. Tivéssemos nós mais respeito pelo passado glorioso da nossa história e estaríamos agora a trilhar caminhos bem diferentes daqueles que estamos a trilhar.

Numa altura em que vamos desejando uns aos outros “um bom ano”, admiremos o nosso património, deixemo-nos tocar por ele e não tenhamos dúvidas que assim teremos um bom ano.

[Edição Nº 4689, 10 de Janeiro de 2008]

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