Debater ideias em Portugal
A localização do novo aeroporto tem sido abordada de muitos ângulos e tem por isso suscitado muitas e variadas reflexões. A decisão do governo veio trazer mais lenha para a fogueira e o assunto subiu para a ribalta. É tema de conversa na rua e até nos círculos de amigos. Nesta altura e com tanta informação e desinformação seria de esperar já uma maior clareza e um maior consenso nacional à volta do assunto. Mas isso não acontece. A confusão é tanta e as opiniões são tão variadas que o cidadão começa a ficar farto de tanta conversa.
Esta constatação deveria colocar-nos uma questão mais pertinente. Porque razão discutimos tanto, durante tantos anos, e nunca chegamos a consensos? Porque razão no nosso país se fala tanto, tão alto e de forma tão atabalhoada? Porque razão não se consegue fazer um debate sereno, civilizado, não para esgrimir argumentos mas para encontrar pontos de convergência?..
Está no sangue da nossa gente e da nossa cultura. Os debates e discussões não servem senão para desfiar um rol de argumentos sempre na tentativa de derrubar o adversário. Desde logo, damos à palavra “debate” um sentido polémico, quase bélico. Partir para um debate é como partir para uma guerra. E treinamo-nos em casa, consultamos tácticas de ataque e defesa, e apetrechamo-nos com todo o tipo de armamento possível e imaginário… tudo vale desde que seja para desmascarar o adversário. Raramente se parte para um debate para conversar, ouvir e tentar perceber as razões da opinião contrária. Raramente se está disposto a mudar de ideia, caso se chegue à conclusão de que o outro ponto de vista é válido, por vezes até mais válido que o nosso. Nos nossos debates de ideias nunca se perde, ninguém perde, e todos ganham, mesmo os que não têm razão nenhuma. Por essa razão alguns políticos mais hábeis evitam os debates, os referendos, a discussão. Eles sabem que em Portugal, a discussão só gera confusão.
Debater o aeroporto, como debater outros assuntos de dimensão nacional, exige muita humildade. Uma humildade que significa despojamento de todo o tipo de interesses pessoais, capacidade de diálogo e verdadeiro desejo de encontrar a verdade, com paixão, mas também compaixão. A discussão sobre a localização do novo aeroporto está minada por interesses, ideias, convicções e por vezes até por fanatismos que em nada permitem uma discussão séria e aberta. Acima de tudo está o interesse e o bem do país; acima de tudo está o bem das pessoas. Escolha-se a opção que vá ao encontro desse bem maior, mesmo que não seja a nossa escolha preferida. Afinal esta discussão é uma óptima ocasião para viver o Evangelho da humildade e do desprendimento.
E que seja tudo para bem da nação.
[Edição Nº 4690, 17 de Janeiro de 2008]
Esta constatação deveria colocar-nos uma questão mais pertinente. Porque razão discutimos tanto, durante tantos anos, e nunca chegamos a consensos? Porque razão no nosso país se fala tanto, tão alto e de forma tão atabalhoada? Porque razão não se consegue fazer um debate sereno, civilizado, não para esgrimir argumentos mas para encontrar pontos de convergência?..
Está no sangue da nossa gente e da nossa cultura. Os debates e discussões não servem senão para desfiar um rol de argumentos sempre na tentativa de derrubar o adversário. Desde logo, damos à palavra “debate” um sentido polémico, quase bélico. Partir para um debate é como partir para uma guerra. E treinamo-nos em casa, consultamos tácticas de ataque e defesa, e apetrechamo-nos com todo o tipo de armamento possível e imaginário… tudo vale desde que seja para desmascarar o adversário. Raramente se parte para um debate para conversar, ouvir e tentar perceber as razões da opinião contrária. Raramente se está disposto a mudar de ideia, caso se chegue à conclusão de que o outro ponto de vista é válido, por vezes até mais válido que o nosso. Nos nossos debates de ideias nunca se perde, ninguém perde, e todos ganham, mesmo os que não têm razão nenhuma. Por essa razão alguns políticos mais hábeis evitam os debates, os referendos, a discussão. Eles sabem que em Portugal, a discussão só gera confusão.
Debater o aeroporto, como debater outros assuntos de dimensão nacional, exige muita humildade. Uma humildade que significa despojamento de todo o tipo de interesses pessoais, capacidade de diálogo e verdadeiro desejo de encontrar a verdade, com paixão, mas também compaixão. A discussão sobre a localização do novo aeroporto está minada por interesses, ideias, convicções e por vezes até por fanatismos que em nada permitem uma discussão séria e aberta. Acima de tudo está o interesse e o bem do país; acima de tudo está o bem das pessoas. Escolha-se a opção que vá ao encontro desse bem maior, mesmo que não seja a nossa escolha preferida. Afinal esta discussão é uma óptima ocasião para viver o Evangelho da humildade e do desprendimento.
E que seja tudo para bem da nação.
[Edição Nº 4690, 17 de Janeiro de 2008]
Etiquetas: editorial