Que andamos nós a fazer do Natal?
Sem que muitos nos déssemos conta eis que chega mais uma vez o Natal. Este tão igual a todos os outros e ao mesmo tempo tão diferente dos outros todos. De facto, o mistério é o mesmo de sempre: a encarnação de Deus, a celebração jubilosa do Deus-Connosco, o Emanuel; mas, ao mesmo tempo o Natal deste ano está mais esquecido dessa celebração e é feito com adornos bem mais humanos que divinos. Sinais do tempo e da história que não para.
Esta mentalidade que vai minando o Natal e lhe vai dando cada vez mais contornos humanos, economicistas e sociais, é já tradição e não vale a pena falar dela. É uma constatação que todos pudemos verificar. Aliás, as crianças que entrevistamos nesta edição são o espelho desta mentalidade. Não reproduzimos todos os interrogados, mas que ninguém se escandalize se dissermos que no meio dos muitos com quem falamos houve alguns que pura e simplesmente afirmaram que o Menino Jesus nada tinha a ver com o natal… ele era mesmo uma mentira dos mais velhos que não querem revelar que é o pai natal que traz as prendas. Isto foi-nos dito por mais de uma criança. Mas importa reflectir sobre as soluções que nós, os cristãos, temos oferecido para de alguma forma “remar contra a corrente” e repormos a verdade. É que nas muitas soluções que temos oferecido, algumas há que mais afundam o mistério.
A primeira, é aquela que a maioria simplesmente utiliza: O Natal é visto como a data do aniversário de Jesus. Da mesma forma que comemoramos o nosso aniversário, com festa e presentes, assim celebramos o nascimento de Jesus. Tudo muito correcto, não fora a teimosia com que depois apontamos o dia 25 de Dezembro como o dia histórico desse nascimento. Eivados de fanatismo religioso e rigorismo, muitos cristãos atrapalham-se e atrapalham a Igreja quando teimosamente fazem do Natal a celebração do nascimento de Jesus, não pelo mistério que encerra (muitos nem sabem dizer Encarnação), mas pelo facto histórico.
A segunda solução, porém, não é menos perigosa que a primeira. É o que acontece quando se procura recriar de forma plástica e encenada o mesmo mistério que se celebra. Aí estão os “presépios ao vivo”, como formas desajeitadas de representar o que é irrepresentável. Jamais alguém poderá representar assim de forma tão humana um mistério tão original e tão divino. Aflora o sentimento, aquecem-se os corações e batemos palmas, porque o menino chorou, ou porque A Nossa Senhora e o S. José eram tão parecidos com os verdadeiros… E mais palmas para o menino vestido de anjo que recitou de forma desconexa um bonito poema que, esse sim, falava da verdade do mistério. Quanto mais se viver o verdadeiro significado do natal, mais se perceberá que ele não cabe nas nossas representações. E quanto mais estas forem “imitações” ou “representações” da realidade, mais longe estarão da verdade.
Uns e outros erram porque se ficam pelo exterior, pelo sentimento e esquecem a verdade do mistério…. Esse será sempre maior que as representações que dele tentemos fazer.
Apetece perguntar, que andamos nós a fazer do Natal?
[Edição Nº 4686, 20 de Dezembro de 2007]
Esta mentalidade que vai minando o Natal e lhe vai dando cada vez mais contornos humanos, economicistas e sociais, é já tradição e não vale a pena falar dela. É uma constatação que todos pudemos verificar. Aliás, as crianças que entrevistamos nesta edição são o espelho desta mentalidade. Não reproduzimos todos os interrogados, mas que ninguém se escandalize se dissermos que no meio dos muitos com quem falamos houve alguns que pura e simplesmente afirmaram que o Menino Jesus nada tinha a ver com o natal… ele era mesmo uma mentira dos mais velhos que não querem revelar que é o pai natal que traz as prendas. Isto foi-nos dito por mais de uma criança. Mas importa reflectir sobre as soluções que nós, os cristãos, temos oferecido para de alguma forma “remar contra a corrente” e repormos a verdade. É que nas muitas soluções que temos oferecido, algumas há que mais afundam o mistério.
A primeira, é aquela que a maioria simplesmente utiliza: O Natal é visto como a data do aniversário de Jesus. Da mesma forma que comemoramos o nosso aniversário, com festa e presentes, assim celebramos o nascimento de Jesus. Tudo muito correcto, não fora a teimosia com que depois apontamos o dia 25 de Dezembro como o dia histórico desse nascimento. Eivados de fanatismo religioso e rigorismo, muitos cristãos atrapalham-se e atrapalham a Igreja quando teimosamente fazem do Natal a celebração do nascimento de Jesus, não pelo mistério que encerra (muitos nem sabem dizer Encarnação), mas pelo facto histórico.
A segunda solução, porém, não é menos perigosa que a primeira. É o que acontece quando se procura recriar de forma plástica e encenada o mesmo mistério que se celebra. Aí estão os “presépios ao vivo”, como formas desajeitadas de representar o que é irrepresentável. Jamais alguém poderá representar assim de forma tão humana um mistério tão original e tão divino. Aflora o sentimento, aquecem-se os corações e batemos palmas, porque o menino chorou, ou porque A Nossa Senhora e o S. José eram tão parecidos com os verdadeiros… E mais palmas para o menino vestido de anjo que recitou de forma desconexa um bonito poema que, esse sim, falava da verdade do mistério. Quanto mais se viver o verdadeiro significado do natal, mais se perceberá que ele não cabe nas nossas representações. E quanto mais estas forem “imitações” ou “representações” da realidade, mais longe estarão da verdade.
Uns e outros erram porque se ficam pelo exterior, pelo sentimento e esquecem a verdade do mistério…. Esse será sempre maior que as representações que dele tentemos fazer.
Apetece perguntar, que andamos nós a fazer do Natal?
[Edição Nº 4686, 20 de Dezembro de 2007]
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