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Ternura no apreço pela vida

Um dos enigmas do ser humano é a sua extraordinária e galopante capacidade de fazer mal a si mesmo. Contrariamente ao instinto mais primário de defesa, o ser humano conseguiu “inventar” uma plêiade de esquemas e situações que são verdadeiros atentados à vida pessoal e social. Consciente ou inconscientemente vamos minando todo o nosso ser e o nosso organismo com atitudes e hábitos que prejudicam a saúde física e psíquica. Não se trata certamente de uma vontade suicida, mas muitos dos gestos que tomamos mais não são que suicídios lentos. O sedentarismo da vida, os maus hábitos alimentares, o tabagismo, o stress, entre outros, são a prova de que olhamos com pouco carinho e pouca ternura, a vida que Deus nos deu.

Estamos demasiado convictos de que a evolução, ou o que chamamos evolução, só traz coisas boas à vida; raramente temos a perspicácia para descobrir os aspectos negativos que obviamente lhe estão subjacentes. Afinal, evolução não significa sem mais nem menos melhor vida e mais vida. Por vezes, é até o contrário que se torna evidente. No entanto, a evolução deveria trazer consigo mais e melhor qualidade de vida.

Talvez nos falte aqui a capacidade de usar um método crítico de análise e intervenção. Um método que foi usado durante muito tempo no âmbito da Acção Católica e que assentava em três pilares fundamentais: ver, julgar e agir. Ver a realidade que temos, para a puder confrontar com os ditames da Palavra de Deus no intuito de termos uma acção mais capaz e alcançar melhores resultados. E essa Palavra é sempre portadora de uma verdade única e irrefutável, porque é de Deus e não dos homens. E sendo de Deus, essa Palavra não está condicionada por interesses económicos, culturais ou mesmo religiosos. Apenas o interesse do bem e da verdade lhe está subjacente.

Por essa razão, também a saúde, como a política e qualquer outra realidade humana, pode e deve ser confrontada com a Palavra de Deus. Encontraremos aqui um caminho único e singular para seguir em frente, sem medo, nem engano. E a evolução será cada vez mais no sentido de alcançar mais e melhor para o Homem.

Nesta edição quisemos aflorar alguns aspectos relacionados com as doenças que atingem o coração. Ficamos impressionados ao constatar que, sendo o órgão vital, é também aquele que mais sofre com os “erros” do progresso. O coração humano é a primeira vítima do progresso e dos novos hábitos que ele traz consigo. Não temos dúvidas que uma leitura cristã da vida e do seu valor nos proporcionará uma forma diferente de ver e actuar, sendo o coração o primeiro a ganhar com isso.

Atrevemo-nos por isso a propor uma receita ímpar, para tratar do coração: deixar-se embrenhar na leitura da Palavra de Deus e nela descobrir cada vez mais a ternura de Deus.

[Edição Nº 4683, 29 de Novembro de 2007]

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