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Porque Alzheimer existe

Eu era ainda muito jovem e não imaginava que coisas daquele género acontecessem a pessoas tão jovens. Ele era mais velho que eu, mas era também muito jovem… teria na altura os seus 40 anos, a idade que eu tenho agora. Lembro-me da primeira vez que o vi. Eu já conhecia os seus filhos e os seus irmãos. A amizade e o convívio tinham feito com que me sentisse já da família. Mas ainda não o conhecia e ninguém me preparou para o que iria encontrar.

Lembro-me como se fosse hoje. Eu entrei para a sala. Desinteressadamente e normalmente fomos conversando. Foi então que ele apareceu à porta. Quando entrou caminhou de forma desajeitada, cambaleante, de passos apressados e quase batendo em tudo o que nos separava. Passei que estaria embriagado. Mas agi como se nada tivesse reparado. Apresentou-se e sentamo-nos. Durante todo o tempo em que assim estivemos frente a frente não houve nada, o menor indício, de alguma coisa anormal. Só quando se levantou para me acompanhar até à saída tudo voltou ao início: os mesmos passos desajeitados, a mesma correria descontrolada e o desequilíbrio geral.

Dias depois fui informado. Era Alzheimer e estava no início da sua manifestação. Disseram-me que depois seria a memória, o esquecimento e por fim o mergulho num mundo tão diferente do nosso de onde seria quase impossível faze-lo voltar. Rezei muito por ele e pelos seus que assim se viam privados do convívio sem nada puderem fazer.

Passaram-se já vários anos desde aquele primeiro encontro. Os nossos caminhos desviaram-se e não sei mais nada dele. Mas muitas vezes o recordo e revejo a sua imagem. O que mais impressionou foi a degradação tão marcada em alguém que parecia tão novo em idade.

Todos os dias nos deparamos com novos casos de Alzheimer; é, entre outras, a doença da moda, mas apesar do seu aumento e da sua presença no nosso quotidiano, ela continua a ser completamente desconhecida pela maioria de nós. Sobretudo são desconhecidas as formas como lidar com um paciente; parece que diante desta incapacidade apenas sabemos olhar e deixar-nos envolver por um forte sentimento de “pena” por quem assim sobre. Mas afinal pudemos fazer mais. É preciso conhecer para aprender a lidar com o problema. Na sequência das temáticas relativas à saúde O Mensageiro traz o assunto nesta edição, para que todos possamos aprender a lidar com ele.

[Edição Nº 4680, 8 de Novembro de 2007]

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