Para além da catequese
A fé vive-se, diz-se e, naturalmente, estuda-se. A maior parte das vezes pensamos que, no âmbito da fé, não há muito para estudar ou conhecer. Afinal de contas a verdade é eterna, como Deus é eterno. O que parece significar que não há lugar a evolução, aprofundamento ou estudo sobre Deus e sobre a fé. Transmitida de pais para filhos, ela seria uma espécie de “segredo escondido” que não muda de lugar. E por isso não seria necessário recorrer aos livros e aos estudos para falar sobre a fé.
Este o erro da geração que, por ser pragmática, desvaloriza o estudo, a reflexão e o pensamento. E contudo vivemos numa época em que o pensamento domina os indivíduos e as sociedades, mesmo que elas não se apercebam disso. Mais do que nunca, é válido o mote que meu professor me ensinou “ se não vives como pensas, acabas por pensar como vives”. Ou seja, as nossas atitudes e formas de agir são o resultado de pensamentos ou ideias, que se não foram pensadas por nós foram-no por outros. O que acaba por tornar mais grave a formulação.
Vem isto a propósito dos desafios que Bento XVI acaba de lançar aos bispos de Portugal. Intelectual como é, não podia deixar de lançar um olhar para a forma como a Igreja Portuguesa vive a fé. E deparou-se, provavelmente, com uma estrutura demasiadamente popular, demasiado rústica e primitiva. Ou seja, os desafios do Vaticano II não terão ainda sido assimilados por esta Igreja que teima e vive demasiadamente ao sabor do tempo passado. Afinal sempre fomos muito avessos à novidade e criatividade; gostamos de nos agarrar ao passado e às formas de vida que deram resultado em outros tempos e em outros lugares. A evolução mete-nos medo e o receio do encontro com o Adamastor povoa as nossas mentes. Arriscamos pouco e sempre que arriscamos tememos o que os outros dizem. E temos razão para o fazer, porque na maioria das vezes os outros estão lá tão só para reprovar e repreender as nossas aventuras. Raramente apoiam ou incentivam.
A fé não vive alheada de toda esta forma cultural de ser. Por isso, também na fé pouco temos evoluído em relação ao que viveram e fizeram os nossos antepassados. E continua a ser mais fácil manter a tradição do que rasgar caminhos novos. Por isso Bento XVI apontou o dedo. E fê-lo precisamente naquilo que é fundamental: a estrutura organizativa da Igreja Portuguesa. Não se trata apenas de uma acção ou outra, de um caso ou outro… é toda a estrutura que precisa ser repensada.
Um dos pontos essenciais prende-se com a formação da fé; a racionalidade da fé. A grande maioria dos nossos cristãos não possui qualquer outra formação religiosa que não seja a aprendida na infância, na catequese. E para além de pouco, isto parece ser muito perigoso. É tempo de racionalizar a fé… Acreditar, mas saber porque se acredita; amar mas ter razões para amar.
Nesta edição fomos procurar formas de pensar a fé.
[Edição Nº 4682, 22 de Novembro de 2007]
Este o erro da geração que, por ser pragmática, desvaloriza o estudo, a reflexão e o pensamento. E contudo vivemos numa época em que o pensamento domina os indivíduos e as sociedades, mesmo que elas não se apercebam disso. Mais do que nunca, é válido o mote que meu professor me ensinou “ se não vives como pensas, acabas por pensar como vives”. Ou seja, as nossas atitudes e formas de agir são o resultado de pensamentos ou ideias, que se não foram pensadas por nós foram-no por outros. O que acaba por tornar mais grave a formulação.
Vem isto a propósito dos desafios que Bento XVI acaba de lançar aos bispos de Portugal. Intelectual como é, não podia deixar de lançar um olhar para a forma como a Igreja Portuguesa vive a fé. E deparou-se, provavelmente, com uma estrutura demasiadamente popular, demasiado rústica e primitiva. Ou seja, os desafios do Vaticano II não terão ainda sido assimilados por esta Igreja que teima e vive demasiadamente ao sabor do tempo passado. Afinal sempre fomos muito avessos à novidade e criatividade; gostamos de nos agarrar ao passado e às formas de vida que deram resultado em outros tempos e em outros lugares. A evolução mete-nos medo e o receio do encontro com o Adamastor povoa as nossas mentes. Arriscamos pouco e sempre que arriscamos tememos o que os outros dizem. E temos razão para o fazer, porque na maioria das vezes os outros estão lá tão só para reprovar e repreender as nossas aventuras. Raramente apoiam ou incentivam.
A fé não vive alheada de toda esta forma cultural de ser. Por isso, também na fé pouco temos evoluído em relação ao que viveram e fizeram os nossos antepassados. E continua a ser mais fácil manter a tradição do que rasgar caminhos novos. Por isso Bento XVI apontou o dedo. E fê-lo precisamente naquilo que é fundamental: a estrutura organizativa da Igreja Portuguesa. Não se trata apenas de uma acção ou outra, de um caso ou outro… é toda a estrutura que precisa ser repensada.
Um dos pontos essenciais prende-se com a formação da fé; a racionalidade da fé. A grande maioria dos nossos cristãos não possui qualquer outra formação religiosa que não seja a aprendida na infância, na catequese. E para além de pouco, isto parece ser muito perigoso. É tempo de racionalizar a fé… Acreditar, mas saber porque se acredita; amar mas ter razões para amar.
Nesta edição fomos procurar formas de pensar a fé.
[Edição Nº 4682, 22 de Novembro de 2007]
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