Uma Igreja feita de capelas
A Igreja Diocesana inicia agora mais um ano pastoral. No próximo dia 7, os cristãos são convocados a participar na Assembleia Diocesana que marca o início das actividades. O acontecimento serve para fazermos uma reflexão sobre o sentido comunitário da fé.
Habituados como estamos a viver a fé na dimensão pessoal e de forma personalista, estamos cada vez mais a perder o sentido comunitário e mais vasto da fé. A sociedade em que vivemos empurra-nos cada vez mais para o recôndito isolado da nossa esfera pessoal. E tudo na vida dos nossos dias se encerra em nós, nas nossas formas de entender e ver o mundo. Somos cada vez mais o centro do mundo e tudo gira à nossa volta. Somos os senhores (os únicos senhores) do mundo. Também a fé se está a fechar cada vez mais no âmbito pessoal: rezamos ao nosso Deus, à nossa maneira e segundo a nossa vontade. Não há mais lugar para fórmulas ou formas comuns de vivenciar a fé. A comunidade não existe, ou se existe, reveste-se de um papel utilitário: é importante enquanto serve para alimentar a minha fé pessoal, enquanto estiver ao serviço de mim mesmo e dos meus interesses. De outra forma, ela não importa, e chega mesmo a ser um empecilho para o meu crescimento pessoal. Assim vão as ideias e os pensamentos desta geração que se está a preparar para enfrentar o futuro.
Fechados no nosso recôndito pessoal, vamos alargando lentamente os braços de forma pouco amistosa. Depois de mim, importa a minha casa, os meus amigos, a minha terra, a minha cidade, o meu país, o meu continente e só no fim de tudo importará o mundo, se para ele houver tempo. Entretanto vivemos a mentalidade da capelinha, como se fosse a forma melhor para crescermos nestes dias que são de turbulência geral. Se antes a unidade era a força, parece que hoje a força está na solidão, ou pelo menos na experiência pessoal. O que vale é a minha opinião, contra a de todos. A fé tornou-se um problema de consciência pessoal, eivada de subjectividade em que o limite é o céu e em que cada um estabelece para si as normas e atitudes, as celebrações e os rituais.
Neste ambiente, a paróquia é o inimigo a combater; torna-se aliado no combate à diocese que finalmente se transforma em amigo para combater o inimigo maior que é a Igreja Universal. O bispo, que é o pai e garante da unidade, desaparece do nosso horizonte; não o conhecemos, não sabemos quem é e não fazemos caso das suas convocatórias ou incentivos de caminhada. Ilustre desconhecido, deambula entre nós, sem que seja reconhecido, amado e acarinhado. Longe vão os tempos em que a Igreja sem bispo não era possível. E ainda que assim continue a ser em termos teóricos, já na prática cada um constrói a sua igreja, sem padre, nem bispo nem papa.
Celebrar o dia da diocese é lutar contra a corrente; é lutar contra este espírito arreigado de individualismo exagerado; é apostar na Igreja Universal que se define desde logo por ser uma Assembleia reunida, para escutar e partilhar a Palavra. É urgente corrigir o rumo que estamos a tomar. Nesta edição quisemos trazer às nossas páginas uma visão diocesana da fé que teimamos em querer reduzir ao foro pessoal.
[Edição Nº 4675, 4 de Outubro de 2007]
Habituados como estamos a viver a fé na dimensão pessoal e de forma personalista, estamos cada vez mais a perder o sentido comunitário e mais vasto da fé. A sociedade em que vivemos empurra-nos cada vez mais para o recôndito isolado da nossa esfera pessoal. E tudo na vida dos nossos dias se encerra em nós, nas nossas formas de entender e ver o mundo. Somos cada vez mais o centro do mundo e tudo gira à nossa volta. Somos os senhores (os únicos senhores) do mundo. Também a fé se está a fechar cada vez mais no âmbito pessoal: rezamos ao nosso Deus, à nossa maneira e segundo a nossa vontade. Não há mais lugar para fórmulas ou formas comuns de vivenciar a fé. A comunidade não existe, ou se existe, reveste-se de um papel utilitário: é importante enquanto serve para alimentar a minha fé pessoal, enquanto estiver ao serviço de mim mesmo e dos meus interesses. De outra forma, ela não importa, e chega mesmo a ser um empecilho para o meu crescimento pessoal. Assim vão as ideias e os pensamentos desta geração que se está a preparar para enfrentar o futuro.
Fechados no nosso recôndito pessoal, vamos alargando lentamente os braços de forma pouco amistosa. Depois de mim, importa a minha casa, os meus amigos, a minha terra, a minha cidade, o meu país, o meu continente e só no fim de tudo importará o mundo, se para ele houver tempo. Entretanto vivemos a mentalidade da capelinha, como se fosse a forma melhor para crescermos nestes dias que são de turbulência geral. Se antes a unidade era a força, parece que hoje a força está na solidão, ou pelo menos na experiência pessoal. O que vale é a minha opinião, contra a de todos. A fé tornou-se um problema de consciência pessoal, eivada de subjectividade em que o limite é o céu e em que cada um estabelece para si as normas e atitudes, as celebrações e os rituais.
Neste ambiente, a paróquia é o inimigo a combater; torna-se aliado no combate à diocese que finalmente se transforma em amigo para combater o inimigo maior que é a Igreja Universal. O bispo, que é o pai e garante da unidade, desaparece do nosso horizonte; não o conhecemos, não sabemos quem é e não fazemos caso das suas convocatórias ou incentivos de caminhada. Ilustre desconhecido, deambula entre nós, sem que seja reconhecido, amado e acarinhado. Longe vão os tempos em que a Igreja sem bispo não era possível. E ainda que assim continue a ser em termos teóricos, já na prática cada um constrói a sua igreja, sem padre, nem bispo nem papa.
Celebrar o dia da diocese é lutar contra a corrente; é lutar contra este espírito arreigado de individualismo exagerado; é apostar na Igreja Universal que se define desde logo por ser uma Assembleia reunida, para escutar e partilhar a Palavra. É urgente corrigir o rumo que estamos a tomar. Nesta edição quisemos trazer às nossas páginas uma visão diocesana da fé que teimamos em querer reduzir ao foro pessoal.
[Edição Nº 4675, 4 de Outubro de 2007]
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