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Viva o desporto

Num destes dias alguém me dizia que “a Igreja, para obter maior notoriedade e até credibilidade, deveria investir mais no desporto, concretamente no futebol”. A razão desse investimento não seria tanto em termos financeiros, mas de maior notoriedade. Ou seja, os tempos de antena são reservados ao desporto e a fama atinge neste sector proporções à escala mundial. Os aborígenes que vivem no deserto, isolados das convulsões políticas e mutações naturais, não conhecem nada para lá dos seus limites, a não ser o nome de alguns famosos do desporto.

Não enveredamos por esta forma de entender e ver a missão da Igreja. Mas não deixa de ser aliciante ver a forma como alguns dos mais novos imaginam e sonham a sua carreira desportistas: a fama e a visibilidade está lá. Qualquer criança que sonhe com uma carreira no mundo do desporto sonha com a visibilidade e a fama, mais do que com o dinheiro ou o prazer.

O desporto é parte integrante da pessoa, o ser humano é por natureza lúdico e desportista. Para lá do aspecto saudável que traz à sua vida, o ser humano encontra na prática desportiva, outros bens considerados hoje essenciais à felicidade: o dinheiro e a fama.

Tempos houve em que a prática desportiva não era tão aliciante nem tão amada, pela importância excessiva que parecia trazer relativamente ao corpo e à estética corporal. Foram tempos em que os valores do espírito eram separados dos prazeres corporais. Hoje a linguagem é outra, e descobrimos que a mente sã precisa de um corpo são. Valorizou-se o corpo, o bem-estar, a estética. A tal ponto que estes valores acabaram por se superiorizar aos espirituais. E o desporto que deveria fazer crescer o indivíduo na sua dimensão humana e espiritual, acabou por se esquecer desta para apenas prestar atenção àquela.

Hoje o desporto está ao serviço de interesses políticos e financeiros, acima dos valores espirituais. Faz-se desporto muitas vezes não para alcançar paz e tranquilidade interior, mas para alcançar mais prestígio e maior conta bancária. É mais uma vez o indivíduo ao serviço da sociedade economicista e ao serviço da política de interesses.

A Igreja continua porém a subordinar a prática desportiva aos interesses humanos. Toda e qualquer modalidade que não ajude a ser mais e melhor humano, não presta e está enferma.

As reviravoltas são tantas, que acabamos por “esquecer o que verdadeiramente é essencial”. No início de mais uma época desportiva quisemos destacar esta dimensão humana, contribuindo assim para uma valorização da prática desportiva.

[Edição Nº 4670, 30 de Agosto de 2007]

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