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Voos mais altos se levantam

Em recente debate ocorrido na Assembleia da República, cuja finalidade era a apresentação/avaliação de políticas ligadas ao uso dos meios técnicos e informáticos no país, lá voltou uma vez mais a discussão sobre a localização do novo aeroporto. Com os políticos a tecerem críticas contra e a favor da sua localização na Ota, muito se disse de verdade e muito se disse com meias verdades. Postas de parte as acusações relativas ao facto de alguns partidos terem mudado de opinião entre o que defendiam e o que defendem agora, só porque antes estavam no governo e agora estão na oposição, pareceu-nos de maior importância agarrar uma verdade escondida e que, como é natural, não se quis discutir. A ideia de que há efectivamente interesses sócio-económicos e interesses pessoais e partidários envolvidos na determinação da localização do novo aeroporto, parece não interessar a ninguém. Nem os partidários da Ota, nem os partidários da margem sul, nem os partidários da manutenção em Lisboa, parecem interessados em discutir este assunto. E no entanto é esse mesmo assunto que a nós, os pagantes, interessa ver discutido e assumido. Afinal de contas, quem vai ganhar com a localização na Ota? Quem vai ganhar se a localização for outra? E não nos referimos aos ganhos em termos de desenvolvimento, estamos a referir-nos em ganhos directos para determinadas contas bancárias. A venda de terrenos, a criação de postos de trabalho, as infra-estruturas a criar estão a beneficiar determinados agentes sociais, e pessoas concretas, que seria um bom serviço se fossem apresentadas e conhecidas. Fala-se muito por aí, e o povo não é cego. Há interesses, há benefícios que são inevitáveis e ainda bem que surgem. Mas, verdade seja dita, também há interesses e benefícios que são procurados e criados de forma suspeita. E é destes que queremos ouvir falar e ver discutidos, com números reais e rostos concretos. Haverá quem tenha coragem para denunciar esta situação?

Outro aspecto importante parece ser o que trata dos custos “globais”, como alguém quis chamar-lhe e até questionou o senhor primeiro-ministro sobre o assunto, pergunta que, obviamente, ficou sem resposta. Ou seja, fazem-nos crer que os custos são uns quando efectivamente eles são outros, se, em nome da verdade, quisermos apresentar o todo das despesas que a obra acarreta e não nos ficarmos apenas com custos parciais. Há aqui também uma informação escondida que só peca por não ser clara, correcta e concisa.

O povo vai ficando cansado destas obras megalómanas que em termos retóricos soam bem e caem bem nos ânimos, mas que depois acabam por ter contornos pouco claros e muitas vezes até muito diferentes do que se projectara inicialmente, e não falamos só das derrapagens, falamos do que se não diz propositadamente.

Não somos nós a trazer a verdade à luz do dia, também não a conhecemos, mas com esta abordagem que fazemos nesta edição, queremos tão simplesmente chamar a atenção, para que estejamos atentos. E já agora, se não for pedir muito, que alguém nos diga a verdade sobre o novo aeroporto.

[Edição Nº 4659, 7 de Junho de 2007]

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