Dia da criança ou dos adultos?
Elas estão na ordem do dia, depois do desaparecimento da pequena Madeleine na praia da Luz, no Algarve. O País ficou sensibilizado, as autoridades tomaram o assunto muito a peito e todos nos admiramos dos meios e métodos usados para encontrar a pequena Madeleine. E mais uma vez assistimos a esta ironia da história: um facto tão negativo traz consigo uma semente de bem: no caso concreto a atenção, a mobilização e a defesa da causa das crianças no geral. Às vezes parece que precisamos mesmo de “bater com a cabeça na porta” para realmente tomarmos consciência de que ela estava lá.
O dia 1 de Junho assinala o dia da criança. Dia em que elas são lembradas, mimadas e faladas por todas a parte. Um dia em que as crianças são tratadas como adultos e de alguma forma os adultos se transformam em crianças, aquela que trazemos sempre connosco. È esta ocorrência que nos leva a trazer aqui o assunto para reflexão e estudo.
A infância sempre foi marcada de forma positiva, ninguém consegue passar indiferente à simplicidade, à pureza e à inocência que ela esconde. As crianças foram, por isso desde sempre elogiadas e amadas, tornam-se o símbolo das capacidades humanas e símbolo da própria humanidade. O século 18 e 19, porém marcam uma viragem na forma como os adultos passam a olhar as crianças. Chegou-se ao ponto de fazer radicar na infância os problemas e as complicações, os medos e frustrações de adultos. A psicologia acabou por atribuir aos anos da infância a constituição da personalidade, e nos anos da meninice foram radicados os traumas dos adultos.
Haverá certamente uma grande dose de verdade nesta forma de ver; e confesso que me agrada e tranquiliza a ideia de que a personalidade se forma nos primeiros anos de vida. Que bom e tranquilizador saber que o fundo que constitui o ser humano é fruto das vivências da infância. Mas mais uma vez não há bela sem senão. Provavelmente esta visão transmitida pela psicologia moderna contribuiu também para um outro olhar sobre a infância. Muitos acabaram por atribuir-lhe capacidades e forças desmedidas, que mais não fizeram que despertar instintos e vontades adormecidas. Tratar as crianças como adultos foi e será sempre um erro, porque será dar-lhes vivências e experiências que elas não sabem avaliar nem vivênciar. O nosso erro de adultos foi querer fazer das crianças adultos em miniatura ou mesmo em potência. E queremos que trabalhem, que pensem e que ajam como adultos. Daí a querer envolve-las nos nossos jogos e interesses de adultos, vai um passo. E é isso que estamos agora a pagar. Por isso admiro cada vez mais a repreensão de Jesus aos seus apóstolos que querendo fazer das crianças adultos as proibiam de se aproximar dele; respondeu-lhes: “deixai vir a mim as crianças”. Como quem diz, deixem-nas ser o que sabem e devem ser: simples, inocentes e divertidas.
Em dia da criança, que fique este desafio a cada um: deixemo-las ser o que são: traquinas, desajeitadas, rotas e sujas… mas também inocentes, cândidas e meigas.
[Edição Nº 4658, 31 de Maio de 2007]
O dia 1 de Junho assinala o dia da criança. Dia em que elas são lembradas, mimadas e faladas por todas a parte. Um dia em que as crianças são tratadas como adultos e de alguma forma os adultos se transformam em crianças, aquela que trazemos sempre connosco. È esta ocorrência que nos leva a trazer aqui o assunto para reflexão e estudo.
A infância sempre foi marcada de forma positiva, ninguém consegue passar indiferente à simplicidade, à pureza e à inocência que ela esconde. As crianças foram, por isso desde sempre elogiadas e amadas, tornam-se o símbolo das capacidades humanas e símbolo da própria humanidade. O século 18 e 19, porém marcam uma viragem na forma como os adultos passam a olhar as crianças. Chegou-se ao ponto de fazer radicar na infância os problemas e as complicações, os medos e frustrações de adultos. A psicologia acabou por atribuir aos anos da infância a constituição da personalidade, e nos anos da meninice foram radicados os traumas dos adultos.
Haverá certamente uma grande dose de verdade nesta forma de ver; e confesso que me agrada e tranquiliza a ideia de que a personalidade se forma nos primeiros anos de vida. Que bom e tranquilizador saber que o fundo que constitui o ser humano é fruto das vivências da infância. Mas mais uma vez não há bela sem senão. Provavelmente esta visão transmitida pela psicologia moderna contribuiu também para um outro olhar sobre a infância. Muitos acabaram por atribuir-lhe capacidades e forças desmedidas, que mais não fizeram que despertar instintos e vontades adormecidas. Tratar as crianças como adultos foi e será sempre um erro, porque será dar-lhes vivências e experiências que elas não sabem avaliar nem vivênciar. O nosso erro de adultos foi querer fazer das crianças adultos em miniatura ou mesmo em potência. E queremos que trabalhem, que pensem e que ajam como adultos. Daí a querer envolve-las nos nossos jogos e interesses de adultos, vai um passo. E é isso que estamos agora a pagar. Por isso admiro cada vez mais a repreensão de Jesus aos seus apóstolos que querendo fazer das crianças adultos as proibiam de se aproximar dele; respondeu-lhes: “deixai vir a mim as crianças”. Como quem diz, deixem-nas ser o que sabem e devem ser: simples, inocentes e divertidas.
Em dia da criança, que fique este desafio a cada um: deixemo-las ser o que são: traquinas, desajeitadas, rotas e sujas… mas também inocentes, cândidas e meigas.
[Edição Nº 4658, 31 de Maio de 2007]
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