Uma outra leitura de Fátima
Maio significa para nós, Maria, Fátima, Peregrinação. Há muito que é assim, mesmo que para a grande maioria, as aparições sejam um acontecimento cada vez mais discutível. Mas, pese embora as apetências ou ideias pessoais, é inegável que a nossa cultura e o nosso país estão marcados pelos acontecimentos ocorridos em 1917. Cada dia que passa nos confrontamos mais e mais com os nossos limites e incapacidades. Quanto mais parece evoluir a história humana, maior é também o confronto com as situações fronteira que nos fazem dar de caras com a nossa pequenez. E é aí, nesses momentos de escuridão, incerteza e até medo, que o divino, o sobrenatural, adquirem um sentido novo e mais preocupante.
Fátima foi e continua a ser uma referência como ponto de encontro com Deus; mas é também um local de esbarramento com os nossos limites. Entrecruzam-se ali a nossa pequenez e a grandeza de Deus; dão-se as mãos os nossos medos e as seguranças de Deus. É por isso que muitos de nós em dias de invernia e em noites de escuridão para lá nos encaminhamos e lá encontramos a paz e o sossego que não encontramos em parte alguma. Fátima marca a nossa cultura como ponto de viragem, de esperança e de olhar mais aberto para o dia de amanhã.
Este encontro adquire um significando ainda mais forte quando afinal a relação que ali temos com o divino não é uma relação de submissão ou de conformismo. Mas uma relação de amor, que só uma mãe e um filho conseguem vivenciar. Afinal de contas em Fátima não é apenas o sentimento religioso que aflora à flor da pele; é o que de mais natural há em nós e nos faz ser mais humanos: a força de uma relação, que ali é experimentada como relação materno-filial. E a cultura portuguesa sempre deu grande importância à capacidade de relacionamento. País de emigrantes, tornamo-nos também um país de imigrantes mostrando ao mundo inteiro a nossa forte capacidade de adaptação, inculturação e relacionamento com outras gentes e culturas. Os sociólogos valorizam muito esta capacidade, apresentando-a como característica da nossa cultura, ou seja, está-nos no sangue. Ora, Fátima é o local que situado no centro de Portugal faz confluir gentes e culturas muito díspares, mas que sabe também fundi-las num consenso tão original quanto harmónico. A experiência do divino que ali se faz sentir está fortemente relacionada com esta capacidade de orquestrar variedades de sentimentos e expressões.
Este ano, já no próximo domingo, as celebrações de Fátima vão dar o pontapé de saída para as comemorações dos 90 anos das aparições, um ano que, por sua vez, será pautado por muitas realizações cujo objectivo é ajudar a experimentar a misericórdia de Deus. Mais uma vez, a perspectiva relacional é salientada e posta em relevo. O papa, por sua vez, quis estar presente de forma legada através do cardeal Sodano, e com este gesto volta-se a evidenciar a relação do crente com a Igreja de Jesus Cristo.
Por todas essas razões e sobretudo pela grande importância que o fenómeno de Fátima representa para os cristãos, quisemos abordar a questão, conhecendo melhor os protagonistas e para despertar consciências adormecidas pela proximidade e pela sonolência do fastio.
[Edição Nº 4655, 10 de Maio de 2007]
Fátima foi e continua a ser uma referência como ponto de encontro com Deus; mas é também um local de esbarramento com os nossos limites. Entrecruzam-se ali a nossa pequenez e a grandeza de Deus; dão-se as mãos os nossos medos e as seguranças de Deus. É por isso que muitos de nós em dias de invernia e em noites de escuridão para lá nos encaminhamos e lá encontramos a paz e o sossego que não encontramos em parte alguma. Fátima marca a nossa cultura como ponto de viragem, de esperança e de olhar mais aberto para o dia de amanhã.
Este encontro adquire um significando ainda mais forte quando afinal a relação que ali temos com o divino não é uma relação de submissão ou de conformismo. Mas uma relação de amor, que só uma mãe e um filho conseguem vivenciar. Afinal de contas em Fátima não é apenas o sentimento religioso que aflora à flor da pele; é o que de mais natural há em nós e nos faz ser mais humanos: a força de uma relação, que ali é experimentada como relação materno-filial. E a cultura portuguesa sempre deu grande importância à capacidade de relacionamento. País de emigrantes, tornamo-nos também um país de imigrantes mostrando ao mundo inteiro a nossa forte capacidade de adaptação, inculturação e relacionamento com outras gentes e culturas. Os sociólogos valorizam muito esta capacidade, apresentando-a como característica da nossa cultura, ou seja, está-nos no sangue. Ora, Fátima é o local que situado no centro de Portugal faz confluir gentes e culturas muito díspares, mas que sabe também fundi-las num consenso tão original quanto harmónico. A experiência do divino que ali se faz sentir está fortemente relacionada com esta capacidade de orquestrar variedades de sentimentos e expressões.
Este ano, já no próximo domingo, as celebrações de Fátima vão dar o pontapé de saída para as comemorações dos 90 anos das aparições, um ano que, por sua vez, será pautado por muitas realizações cujo objectivo é ajudar a experimentar a misericórdia de Deus. Mais uma vez, a perspectiva relacional é salientada e posta em relevo. O papa, por sua vez, quis estar presente de forma legada através do cardeal Sodano, e com este gesto volta-se a evidenciar a relação do crente com a Igreja de Jesus Cristo.
Por todas essas razões e sobretudo pela grande importância que o fenómeno de Fátima representa para os cristãos, quisemos abordar a questão, conhecendo melhor os protagonistas e para despertar consciências adormecidas pela proximidade e pela sonolência do fastio.
[Edição Nº 4655, 10 de Maio de 2007]
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