As festas que fazemos
Estamos habituados... todos os anos é assim. Com a chegada dos meses do tempo quente, as nossas freguesias e aldeias pululam de vida, festas e arraiais, que são pólos de reencontro de amigos e movimentam pessoas e bens. Uma realidade muito tipicamente portuguesa, que nada tem a ver com os tipos de divertimento mais selectivos que se fazem noutros países. Entre nós, reina a espontaneidade, a euforia, a irreverência e o exagero. E tudo num ‘cocktail‘ final que resulta, muitas vezes, na desordem, na confusão e mesmo na ilegalidade.
A grande maioria destas festividades nasceu e cresceu à sombra da Igreja. Normalmente associadas à homenagem e à devoção de um Santo padroeiro, estas festas foram pensadas e estruturadas por comissões que, inicialmente, pretendiam fazer uma celebração ou actividade de cariz religioso. Depois, vieram os grupos profissionais e os muitos técnicos diferenciados – por vezes, técnicos de nada – que, pouco a pouco, foram transformando estas festas numa espécie de “mini-indústria”. Desapareceram a espontaneidade, as equipas de festeiros voluntários, o tom verdadeiramente religioso e, nalguns casos, desapareceu até o nome do Santo que deu origem aos festejos.
Hoje, tudo é mais formal, mais profissionalizado, desde o serviço de bar, ao serviço do electricista, passando pelo serviço de animação…
Recentemente, até o Governo, com a lei das finanças locais, “meteu o nariz” e veio formalizar ainda mais estes eventos. Formalizar e burocratizar, numa época em que está em execução o chamado “simplex”, cuja missão era, precisamente, a de desburocratizar.
Como em tantos outros sectores da nossa vida, também neste campo, a marcha da história se fez num ciclo que está agora a voltar ao ponto de partida. Inicialmente, muitas das festas celebradas eram de origem pagã; com o cristianismo, foram transformadas e cristianizadas; hoje, porém, voltam a ser paganizadas. Mas, apesar desta onda de laicidade que se introduz na programação dos festejos, a verdade é que eles continuam a fazer-se à sombra de uma instituição que é sempre garantia de sucesso: a Igreja. E à sombra da Igreja, se fazem autênticas aberrações contra ela própria. Se há ou não intuito de prejudicar e estragar, não sabemos, nem nos compete a nós julgar; mas que assistimos a um desmoronar de cultura e de fé, isso todos o podemos constatar. Há neste campo um terreno fértil para reflexão, para a qual os responsáveis eclesiais devem convocar toda a sociedade, em nome do bem-comum e em nome da fé.
Durante o mês de Maio, Leiria esteve em festa e assim vai continuar nos próximos meses. Festas pouco cristãs, estas, e de condão assumidamente pagão. Mas mesmo aqui, o peso da tradição parece não ser esquecido por aqueles que, afinal, são o suporte das festividades: a gente anónima, a gente simples, o povo. Às vezes, parece que os organizadores vão esquecendo esta parte tão importante das festas; às vezes, parece que as organizam para si mesmos e em função dos seus gostos e desejos, esquecendo o mais importante: a dimensão lúdica do ser humano.
Façamos festa; sim, a vida é uma festa. Mas tenhamos juízo nas festas que fazemos.
[Edição Nº 4657, 24 de Maio de 2007]
A grande maioria destas festividades nasceu e cresceu à sombra da Igreja. Normalmente associadas à homenagem e à devoção de um Santo padroeiro, estas festas foram pensadas e estruturadas por comissões que, inicialmente, pretendiam fazer uma celebração ou actividade de cariz religioso. Depois, vieram os grupos profissionais e os muitos técnicos diferenciados – por vezes, técnicos de nada – que, pouco a pouco, foram transformando estas festas numa espécie de “mini-indústria”. Desapareceram a espontaneidade, as equipas de festeiros voluntários, o tom verdadeiramente religioso e, nalguns casos, desapareceu até o nome do Santo que deu origem aos festejos.
Hoje, tudo é mais formal, mais profissionalizado, desde o serviço de bar, ao serviço do electricista, passando pelo serviço de animação…
Recentemente, até o Governo, com a lei das finanças locais, “meteu o nariz” e veio formalizar ainda mais estes eventos. Formalizar e burocratizar, numa época em que está em execução o chamado “simplex”, cuja missão era, precisamente, a de desburocratizar.
Como em tantos outros sectores da nossa vida, também neste campo, a marcha da história se fez num ciclo que está agora a voltar ao ponto de partida. Inicialmente, muitas das festas celebradas eram de origem pagã; com o cristianismo, foram transformadas e cristianizadas; hoje, porém, voltam a ser paganizadas. Mas, apesar desta onda de laicidade que se introduz na programação dos festejos, a verdade é que eles continuam a fazer-se à sombra de uma instituição que é sempre garantia de sucesso: a Igreja. E à sombra da Igreja, se fazem autênticas aberrações contra ela própria. Se há ou não intuito de prejudicar e estragar, não sabemos, nem nos compete a nós julgar; mas que assistimos a um desmoronar de cultura e de fé, isso todos o podemos constatar. Há neste campo um terreno fértil para reflexão, para a qual os responsáveis eclesiais devem convocar toda a sociedade, em nome do bem-comum e em nome da fé.
Durante o mês de Maio, Leiria esteve em festa e assim vai continuar nos próximos meses. Festas pouco cristãs, estas, e de condão assumidamente pagão. Mas mesmo aqui, o peso da tradição parece não ser esquecido por aqueles que, afinal, são o suporte das festividades: a gente anónima, a gente simples, o povo. Às vezes, parece que os organizadores vão esquecendo esta parte tão importante das festas; às vezes, parece que as organizam para si mesmos e em função dos seus gostos e desejos, esquecendo o mais importante: a dimensão lúdica do ser humano.
Façamos festa; sim, a vida é uma festa. Mas tenhamos juízo nas festas que fazemos.
[Edição Nº 4657, 24 de Maio de 2007]
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