Onde anda a crise?
Semana das vocações é também semana de reflexão sobre a questão das vocações sacerdotais. E importa que a reflexão seja realista, baseada em factos e ilumine os passos a dar no futuro.
Com mais de dois mil anos de história a Igreja sempre tem sabido crescer e progredir no meio de intempéries que de tempos a tempos parecem querer derruba-la. Mais do que falta de operários a messe é ameaçada por lobos que, vindos de fora, lançam a confusão e querem assim arrasar a seara. A história tem provado, no entanto, que esses ameaços não passam disso mesmo.
Vivemos hoje um destes momentos históricos. Muitos dos que não querem fazer parte da Igreja, muitos dos que não ousam pôr mãos ao trabalho, pretendem lançar a confusão para dentro da seara, dizendo que não há trabalhadores, falando em crise e daí estendendo-se para críticas que muitas vezes chegam ao ataque despeitado.
Mas, como dissemos, é preciso que o que se diz e pensa tenha fundamento. É claro que a Igreja atravessa um período conturbado, internamente e externamente; é certo que as camadas mais jovens não correm como outrora para as igrejas; é certo que muitos dos cristãos praticantes não se identificam com a moral católica e por vezes são inclusivamente muito críticos da mesma; é certo em suma que a influência e o domínio da Igreja não é hoje o mesmo que foi noutros tempos. Mas também é preciso reconhecer o mérito que cabe a uma instituição que, como a Igreja, sempre esteve na vanguarda da formação e da educação humana; é preciso reconhecer quanto lhe deve esta velha Europa; e é preciso que se faça justiça para com muitos cristãos anónimos que vivem a fé e a condição cristã de forma recta, serena e convicta. Ou seja, a seara está cheia de plantas que se misturam: mistura-se o trigo com o joio e mistura-se a verdade com a mentira, a santidade com o pecado. Sempre assim foi e assim continuará a ser.
A mesma ideia perpassa a tão apregoada e falada “crise de vocações”. Dela se fala há muitos anos, mas até ao presente pouco tem marcado o percurso histórico da Igreja. E isso porque muitas vezes fala-se mais do que efectivamente acontece…. São os tais lobos a tentar devastar a seara. Quando entrei para o Seminário de Leiria já se falava de crise. Ao ponto de eu me sentir na altura um herói no meio da guerra. Já lá vão 25 anos. Desde que as preocupações da Igreja da diocese me tocaram mais profundamente e me misturei com este ambiente eclesial não posso dizer que essa crise tenha marcado assim tanto a caminhada quotidiana. Afinal nos últimos 20 anos ordenaram-se 31 novos padres, o que faz uma média superior a um por ano. Isto é crise para uma diocese como a nossa?
É certo que o futuro não é risonho, mas também já era assim há 25 anos e no entanto cá estamos. Estou convencido que o mesmo diremos daqui a 25 anos. Entretanto alegremo-nos porque neste domingo a diocese vai acolher um novo padre e um novo diácono.
[Edição Nº 4653, 26 de Abril de 2007]
Com mais de dois mil anos de história a Igreja sempre tem sabido crescer e progredir no meio de intempéries que de tempos a tempos parecem querer derruba-la. Mais do que falta de operários a messe é ameaçada por lobos que, vindos de fora, lançam a confusão e querem assim arrasar a seara. A história tem provado, no entanto, que esses ameaços não passam disso mesmo.
Vivemos hoje um destes momentos históricos. Muitos dos que não querem fazer parte da Igreja, muitos dos que não ousam pôr mãos ao trabalho, pretendem lançar a confusão para dentro da seara, dizendo que não há trabalhadores, falando em crise e daí estendendo-se para críticas que muitas vezes chegam ao ataque despeitado.
Mas, como dissemos, é preciso que o que se diz e pensa tenha fundamento. É claro que a Igreja atravessa um período conturbado, internamente e externamente; é certo que as camadas mais jovens não correm como outrora para as igrejas; é certo que muitos dos cristãos praticantes não se identificam com a moral católica e por vezes são inclusivamente muito críticos da mesma; é certo em suma que a influência e o domínio da Igreja não é hoje o mesmo que foi noutros tempos. Mas também é preciso reconhecer o mérito que cabe a uma instituição que, como a Igreja, sempre esteve na vanguarda da formação e da educação humana; é preciso reconhecer quanto lhe deve esta velha Europa; e é preciso que se faça justiça para com muitos cristãos anónimos que vivem a fé e a condição cristã de forma recta, serena e convicta. Ou seja, a seara está cheia de plantas que se misturam: mistura-se o trigo com o joio e mistura-se a verdade com a mentira, a santidade com o pecado. Sempre assim foi e assim continuará a ser.
A mesma ideia perpassa a tão apregoada e falada “crise de vocações”. Dela se fala há muitos anos, mas até ao presente pouco tem marcado o percurso histórico da Igreja. E isso porque muitas vezes fala-se mais do que efectivamente acontece…. São os tais lobos a tentar devastar a seara. Quando entrei para o Seminário de Leiria já se falava de crise. Ao ponto de eu me sentir na altura um herói no meio da guerra. Já lá vão 25 anos. Desde que as preocupações da Igreja da diocese me tocaram mais profundamente e me misturei com este ambiente eclesial não posso dizer que essa crise tenha marcado assim tanto a caminhada quotidiana. Afinal nos últimos 20 anos ordenaram-se 31 novos padres, o que faz uma média superior a um por ano. Isto é crise para uma diocese como a nossa?
É certo que o futuro não é risonho, mas também já era assim há 25 anos e no entanto cá estamos. Estou convencido que o mesmo diremos daqui a 25 anos. Entretanto alegremo-nos porque neste domingo a diocese vai acolher um novo padre e um novo diácono.
[Edição Nº 4653, 26 de Abril de 2007]
Etiquetas: editorial