Deus, Alá e Buda
Num destes dias ouvi uma entrevista na rádio a uma dessas senhoras que, como ela mesma se definiu, aposta na positividade da vida. Achei piada porque dizia ter um dom que aperfeiçoou desde pequena por meio de cursos e muita experiência de positividade. E falava da sua experiência para dizer no fim que não é ninguém especial, apenas tem a capacidade de contornar as situações e passar-lhes por cima. No meio de tudo veio a pergunta sobre a fé e a crença em Deus em geral. Ela disse que não era crente, mas tinha fé num ser superior e que isso era importante para ver o positivo da vida. E rematou mais ou menos assim “chame-se-lhe o que quisermos - “Deus” ou “Alá” ou “Buda” - é importante tê-lo na vida como um objectivo a alcançar.
Eu ia a conduzir e quase que perdia o controle do automóvel com estas palavras. Então uma senhora destas, que tem um dom tão original, não consegue diferenciar “Deus”, “Alá” e “Buda”, é tudo o mesmo, tudo a mesma coisa e com a mesma importância?! Santa ignorância. O pior é que, em meu entender, quando não se sabe, é melhor nada dizer, nem bem, nem mal. O melhor é simplesmente calar; respeitar os que crêem e, da nossa parte, calar, para não errar.
Tenho pena de não ter sabido o nome da tal senhora, por certo lhe escreveria, mas apanhei a entrevista já a meio e não consegui identificá-la. Mas mesmo assim quero dizer-lhe a ela e a muitos que, como ela, pensam da mesma forma e talvez venham a ler estas linhas, quero dizer-lhe que os tais deuses ou as tais forças absolutas não são iguais. O Cristianismo, mesmo que muitos não o queiram admitir, é único no meio desta amálgama toda; Cristianismo define-se por ser uma crença em que a fé é uma atitude e se centra numa pessoa. Ou seja, a fé no cristianismo é uma atitude de confiança em Jesus Cristo. Este por sua vez é merecedor dessa confiança pelo facto da ressurreição, que nestes dias celebramos. Não há mais nenhuma religião com esta verdade.
A tal positividade não é, no cristianismo, fruto de um exercício de apaziguamento com a vida e com a natureza; não é mesmo um “passar ou contornar as dificuldades”; no cristianismo enfrenta-se e assume-se a vida, para a transformar. Sim, esta é a novidade cristã: a transformação e não a sublimação. Transformação de que a ressurreição de Jesus é já o paradigma. O cristão não sublima o seu sofrimento; abraça-o e transforma-o.
Esta fé é na verdade original, única e nada tem a ver com Ala ou com Buda…. Ou qualquer outra divindade ou força que queiram arranjar. Aliás, no cristianismo esta capacidade transformadora nem sequer é uma conquista de iluminados ou bem comportados… é um dom que só Deus pode dar a quem quer. Há no meio destes iluminados que dão entrevistas uma ignorância tão confrangedora que até arrepia….
Quando é que aprenderemos a levar a vida a sério? Entretanto deixemo-nos de brincadeiras e tenhamos juízo…
A Páscoa é uma excelente ocasião para ganhar juízo….
Santa Páscoa…
[Edição Nº 4650, 5 de Abril de 2007]
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