Mais do que uma peregrinação
Peregrinar é uma palavra dinâmica, cheia de força e que no final exprime bem a condição da nossa vida na terra. Somos eternos peregrinos, vindos não sabemos bem de onde e a caminho não sabemos bem do quê. Para lá do mistério da própria vida que assim nos define, está a fé que mais reforça esta ideia de peregrinos, embora nos dê razões de proveniência e de destino: vimos de Deus, e depois de viver longe dele, para Ele caminhamos. Muito do que somos e fazemos, muito do que sentimos em cada dia, está directamente relacionado como entendemos a nossa vida nesta terra. Muita da felicidade que buscamos está directamente relacionada com a forma como entendemos esta peregrinação que é a vida e a fé.
Absorvidos por mil e uma preocupação que preenchem o nosso quotidiano e nos fazem viver fora de nós próprios, raramente assumimos esta condição peregrinante e a nossa vida vai-se tornando enfadonha, temerária e pouco a pouco vazia de sentido: antes saber que caminhamos, mesmo sem conhecer o destino, do que nem sequer saber que caminhamos. Perdida a orientação perdemos também a vontade de procurar ou trilhar novos rumos. Desta forma a vida torna-se realmente vazia e a existência um fardo insuportável.
Todos os anos, a diocese de Leiria-Fátima propõe uma jornada de peregrinação ao Santuário de Fátima. Uma jornada que se faz de oração e celebração, de convívio e reflexão. Mas acima de tudo, uma jornada que se preenche com ritos simbólicos de caminhada e peregrinação. Desde a partida, até ao regresso, tudo é símbolo da caminhada da vida e da fé, tudo remete para o sentido peregrino da existência. Peregrinamos quando nos deslocamos, mas também caminhamos quando parados contemplamos, rezamos, louvamos e celebramos a fé. Somos eternos caminhantes. Assim é conhecido Abraão, o caminhante que partiu em busca de uma terra prometida, e que por essa mesma razão é também cognominado como o Nosso Pai na Fé.
Na semana em que a diocese prepara a 76ª peregrinação a Fátima, a realizar no próximo dia 25, quisemos trazer o assunto às nossas páginas, não apenas para informar sobre o programa e a organização desta peregrinação, mas também com o desejo de assim pudermos contribuir para uma melhor formação e esclarecimento sobre o verdadeiro sentido da peregrinação. Não se trata de uma proposta desportiva nem mesmo uma proposta de encontro amigo e pacífico. Trata-se, antes, de um mergulho em cheio naquilo que há demais sério e verdadeiro na vida de cada ser humano e de cada cristão. Este ano, a peregrinação terá subjacente o tema vocacional, proposto no Projecto Diocesano, o que vem enriquecer ainda mais o valor e o sentido do acontecimento. A Peregrinação entendida como forma de resposta vocacional, pode tornar-se um óptimo meio de catequese e de crescimento na santidade. Por essa razão não pudemos deixar de evoca-la aqui.
Que cada um aproveite esta ocasião e que todos peregrinemos em busca da casa do pai.
[Edição Nº 4647, 15 de Março de 2007]
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