Em memória da memória
Muitos de nós lembramos as antigas cadeiras ou secretárias escolares nas quais aprendemos as letras e demos os primeiros passos na leitura. As salas de aulas eram sóbrias com um enorme quadro escuro, onde se escrevia a data de cada dia, e havia um cheiro a lápis e a papel que davam um certo tom familiar ao espaço. Nada que se compare com os espaços e materiais dos dias de hoje, em que as salas de aula foram transformadas em espaços amplos onde a escrita e a leitura nem sempre estão presentes. E como se não bastasse o governo acaba de anunciar que até ao ano 2012 pretende rever os referidos espaços no sentido de lhes conferir um ambiente mais “in”, a palavra usada é “moderno”.
Prestes a terminar um novo período escolar, perguntei num destes dias aos meus alunos quais eram as suas avaliações em termos de horários, e ambiente geral da escola. Resposta geral, unânime: “falta um bar em condições na escola”. Não sei se as pretensões do governo vão agora no sentido de fornecer esse tal bar aos espaços escolares, convenhamos que lhes dava um ar mais moderno (in).
Ainda recordo como nos meus tempos foi uma novidade quando a escola começou a distribuir um pão com uma fatia de queijo. A novidade do evento, para quem tinha aulas de manhã até ao meio da tarde, não nos levou de forma alguma a reclamar pelo facto do tal lanche ser então distribuídos nas escadas e alpendre de entrada. Ninguém iria pensar num bar, para ser distribuído o lanche, ele valia por si, e era já uma dádiva que nenhum de nós queria regatear ou questionar.
Não sou saudosista e muito menos quero ser fundamentalista, e por isso de forma alguma quero fazer juízos de valor entre a escola que tive e que os meus alunos têm hoje; de forma alguma preconizo um regresso às formas do passado. Mas não posso deixar de reconhecer e comparar os resultados, em termos de aprendizagem, entre o passado e o presente. E sei, talvez seja uma deformação daquela escola que vivi, que o presente se faz também a partir do passado. Ou seja, estamos muito dependentes do que fomos e vivemos no passado. Seremos tanto melhores hoje, quanto mais o passado foi vivido em equilíbrio e serenidade.
Este convívio salutar com o passado, encontramo-lo na história estudada e conhecida, de que os museus são uma concretização singular. Por isso visitar um museu é mais que um regresso ao passado, é também uma aprendizagem para o presente. Daí que somos a favor da construção destes espaços que reconhecemos serem mais que um resquício do passado, para se tornarem alma do progresso e da evolução da história. Esta a certeza que nos moveu a trazer para o destaque desta semana a realidade do museu escolar da nossa região. Fomos ver e contactar com as pessoas envolvidas para no final mais ficarmos convencidos de que os museus não são depósitos de antiguidades, mas são cada vez mais espaços de encontro e diálogo com a nossa história. E sempre que assim é crescemos um humanidade e em cultura. Apróxima vez que programar uma saída, pense em visitar um museu, nos Marrazes encontrará a sugestão que aqui deixamos. Boas visitas!
[Edição Nº 4648, 22 de Março de 2007]
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