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Com a saúde não se brinca

No dia 11 de Fevereiro a Igreja celebra o XV Dia Mundial do Doente. Uma iniciativa que nasceu no seio da Igreja e com a qual se pretende voltar a atenção para o vasto campo da saúde: obviamente que os primeiros protagonistas são os doentes, mas o campo de interesse, de reflexão e oração, estende-se ao pessoal médico, às políticas de saúde e às múltiplas instituições e meios de saúde.

O nosso jornal volta, por isso, ao assunto procurando dar uma rápida visão panorâmica e somária sobre o que vai acontecendo no nosso país ao mesmo tempo que apresentamos algumas das propostas da Pastoral da Saúde.

Uma ideia deve servir de pano de fundo a quanto aqui dizemos. A saúde é um direito e o acesso aos cuidados de saúde que o Estado oferece são para o cidadão um direito a que corresponde um dever cívico e moral por parte do Estado. As políticas podem ser muitas e variadas, mas o tema é de crucial importância para a dignidade da espécie humana. A saúde não pode entrar no ciclo comercial, nas redes de negócios (por vezes pouco claros) que proliferam no nosso tempo. Aliás com a saúde, bem diz o nosso povo, não se brinca. Mas se advogamos uma maior transparência no que se refere aos dinheiros e às máfias que se infiltram neste campo, também não preconizamos uma forma de estar que se confunda com a piedade ou a caridade “balofa”. Isto é, a saúde e a assistência ao doente, porque se trata de pessoas em debilidade física, psíquica e emocional, pode facilmente reduzir-se a uma política de caridade, órfã de um plano e de um projecto que lhe dê vida e o sustente. As políticas de saúde não servem para distribuir dinheiros ou medicamentos sem “rei nem roque”, como quem distribui migalhas de pão a pombos esfomeados. As políticas de saúde devem ser emolduradas com um forte, autêntico e equilibrado sentido de humanismo, de forma a dignificarem o doente e a darem-lhe uma plena inserção na sociedade, sem qualquer tipo de discriminação ou marginalização. Há neste campo muito por fazer.

É verdade que há muito por fazer, desde logo, ao nível das infra-estruturas. O nosso país apresenta um quadro lastimável neste sector. Ainda há poucos dias se perdeu uma vida por culpa das infra-estruturas, ainda que os estudos posteriores queiram dizer o contrário. Há mesmo muito para fazer. Mas o grave é saber, depois, que se gastam milhões e milhões de euros em outros sectores, também eles importantes, mas discutíveis quanto à prioridade. Haverá algum aeroporto, alguma ponte ou algum TGV que valha mais que uma vida humana? Se sim, vamos bem encaminhados; se não… então haja alguém que tenha a coragem de parar isto. De uma vez por todas.

Fazemos votos para que a nossa política de saúde, se torne uma verdadeira pastoral da saúde. Ou seja, que o doente seja sempre o primeiro, o mais importante em todo o processo. Que os dinheiros e os interesses fiquem para depois. A propósito, esta linha de ideias poderá ser tida em conta para a decisão dos indecisos em relação ao referendo sobre a despenalização do aborto.

[Edição Nº 4642, 8 de Fevereiro de 2007]

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