Amar com o coração e a razão
Longe vai o tempo em que a vida era feita de verdades absolutas apreendidas uma vez e válidas para o resto da vida; longe vai o tempo em que, em termos religiosos, a vida cristã se fazia e definia por verdades aprendidas, memorizadas e mais ou menos praticadas. A revolução francesa marcou o fim desse tempo e dessa forma de estar na vida.
Hoje, sabemos que a verdade, embora continue a ser absoluta, é variável consoante os tempos e as mentalidades; hoje sabemos que muitas vezes precisamos de ir mais fundo para compreender o que dizemos, ter assumido e constituir o nosso espólio doutrinal. Os mais novos já não se contentam com frases feitas ou chavões que, embora verdadeiros, são muitas vezes questionáveis e por vezes até duvidosos. Mais do que aprender a doutrina cristã, a sociedade actual pede-nos que saibamos compreender o que defendemos.
Quem lida com as massas sabe que estas são cada vez mais exigentes e precisam cada vez mais de solidez nas suas convicções, quanto mais não seja para se defenderem dos embates a que diariamente são submetidas. Em termos religiosos esta nova exigência tem um nome: formação. A fé não é mais para ser vivida de forma cega e apaixonada, embora sejam essas duas das características que a definem. É preciso também estar esclarecido, formado e convicto. Um dos maiores pecados da cristandade é a falta de formação. Tantos de nós vivemos apenas com o que um dia ouvimos falar em velhos bancos de sacristia, de cheiro a mofo e por vezes a piedade mesquinha. Nos dias que correm os cristãos precisam cada vez mais de saber o que dizem quando professam a fé; cada vez mais precisam conhecer a história da Igreja, a sua doutrina social, a moral e a liturgia. Só assim poderemos levantar a cabeça e ousar ser luz num tempo e num mundo que é racional e cientifico.
Perante estes desafios muitos temem o fim da fé; outros teimam em persistir numa fé tradicional e até infantil e há os que procuram trilhar novos caminhos mais concordantes com as novas exigências. Na nossa diocese foi iniciado um projecto e uma aposta que continha nas suas exigências este imperativo da formação. Para lá do sentimento e do coração, pretende-se trazer razão á fé das comunidades e das pesoas individualmente consideradas.
Com este espírito e intenção nasceu, há quase 20 anos, a escola teológica de leigos de Leiria. Ao longo dos anos muitos foram os que a frequentaram e muitas foram as fases e etapas que sofreu. Hoje o Centro de Formação e Cultura (CFC) pretende ser o rosto visível desta aposta que continua a ser uma necessidade.
Fomos interrogar os protagonistas e fomos conhecer as propostas que a diocese faz para que se consiga alcançar este objectivo formativo. Do que vimos e descobrimos deixamos aqui uma pequena resenha para que o leitor desperte e ao mesmo tempo descubra o melhor caminho para a sua situação.
[Edição Nº 4641, 1 de Fevereiro de 2007]
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