Um paliativo agradável
Os dias não estão para grandes sonhos ou projectos. De facto muitos dos portugueses começam a ter medo de acordar cada manhã, porque correrem o risco de ser vítimas de mais uma greve de transportes ou porque, pelo simples facto de terem dormido tranquilamente, os combustíveis e os bens de primeira necessidade aumentaram de preço. Cada dia há uma novidade que nos faz andar “com o credo na boca” e com medo de aparecer por aí. Muitos são os portugueses que vão contando os cêntimos que restam na carteira e muitos são os que entretanto se vão endividando mais e mais.
Neste cenário, olhar para amanhã, ou sonhar com as férias de Verão, é uma miragem; uma espécie de sonho bonito mas que não passa de sonho. E o que acontece quando nos sentimos perdidos no meio do deserto? Ou sonhamos com o oásis que não existe senão na nossa cabeça; ou então olhamos para trás e seguimos as pegadas deixadas na areia. No meio da confusão, quando estamos perdidos, ou arriscamos seguir em frente, ou agarramo-nos às certezas e experiências do passado.
Começa a acontecer algo de semelhante na mente dos portugueses. O medo de olhar para o futuro, o medo de encarar o que aí vem (e ainda está muito para vir) tem feito com que muitos se agarrem às novelas (a aumentarem de audiência nos últimos meses); enquanto que outros se têm voltado para o passado. O estudo da história tem aqui uma oportunidade que não deve ser perdida. As sete maravilhas de Portugal são muito mais que um qualquer edifício histórico (fazem-se todos os dias maiores maravilhas) mas a fixação em monumentos ou edifícios esconde muito deste sentimento de desânimo e desalento em relação ao presente e ao futuro.
Temas da história são uma espécie de paliativo que acalmam os nervos e tranquilizam os espíritos mais desmoralizados. Embora a história tenha valor por si mesma, não pudemos deixar de admitir que há nela muito de sedativo e tranquilizante. E isso não é de si mesmo negativo nem desvaloriza de forma alguma o interesse e valor da história. Mas deve-nos fazer pensar.
A este propósito e também para animar os espíritos mais desanimados, quisemos trazer a esta edição um pouco de história para encorajar os que olham o futuro sem perspectivas ou com receios. Tanto da história universal como história económica do nosso país. Há muito de bom na história, há muito de bom no nosso passado. Esse bom é a prova, mais que provada, de que somos capazes de fazer melhor hoje e amanhã. Olhar para trás não para desistir de andar em frente, mas para incrementar e aumentar ainda mais o passo.
Estamos crentes de que o olhar retrospectivo poderá ser uma mais valia para o acordar de manhã.
[Edição Nº 4638, 11 de Janeiro de 2007]
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