Números e ideias
Quando se fazem análises sociológicas, os números não são tudo, mas são importantes para espelhar a realidade. É a partir deles que se podem tirar muitas e variadas ilações, articulações e chegar a conclusões que ajudam a projectar e a delinear estratégias de acção.
Mas a sociologia também se faz com o sentir e o pensar das gentes. Aliás esse é mesmo o dado mais importante. As sociedades são as pessoas e o que elas pensam, as ideias fazem os esquemas e constituem a base de progresso dos grupos sociais. No entanto, e este é o lado pecaminoso, muitas vezes as ideias formulam-se por maiorias, por interesses de grupos ou por rumores nascidos de forma desconhecida e em lugares desconhecidos. Estas ideias têm a força para destruir sociedades inteiras e arruínam muitas vidas públicas e privadas.
Nos últimos tempos, com o crescimento dos meios de comunicação social e com a sua divulgação, muitas ideias surgem nas conversas de café e são “assumidas” por muita gente, sem que tenham qualquer fundamento racional. A maioria das pessoas pensa como ouve dizer que pensam os “heróis” das novelas e são muitos os que não têm uma ideia fundamentada sobre o que quer que seja, mas são capazes de se pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa. Por simpatia, por ignorância ou por qualquer outro motivo, agarram-se a “chavões” só porque foram veiculados por um qualquer líder de opinião (e o maior deles é o próprio aparelho de televisão). É assim que se vêm proliferar muitas formas de intervenção cívica, por vezes promovidas e alimentadas por gente que não está bem certa do que quer e do que faz. Sem que nos demos conta, os sentimentos, as maiorias, os líderes de opinião, estão a governar o país.
No final do ano 2006 e ainda nos inícios do percurso do novo ano, quisemos ir averiguar o que os números nos dizem em relação a alguns dados tão sensíveis como o baptismo, o casamento e a morte. Fizemo-lo assumindo o ângulo do cristianismo, porque somos ainda um país que se diz maioritariamente católico e porque esses dados estão directamente relacionados com o nível de fé da sociedade portuguesa. Não somos sociólogos, nem temos conhecimentos sociológicos suficientes para nos aventurarmos numa análise dos dados que aqui reproduzimos. Por isso optámos por simplesmente traze-los à luz do dia e aventuramos algumas questões pertinentes que podem ajudar a fazer a sua leitura. Mas não queremos com isto de forma alguma impor qualquer opinião, não ousaremos substituir aquilo que deve ser a reflexão de cada um.
Uma palavra de agradecimento aos párocos das 73 paróquias da diocese de Leiria, que de forma simpática contribuíram para a recolha destes dados.
[Edição Nº 4640, 25 de Janeiro de 2007]
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